Um enredo de gigantes “caçadores de sonhos” escrito por Roald Dahl em 1982, é, teoricamente, “pano para mangas” do habitual cinema familiar de Steven Spielberg, aquele que é visto por muitos como um dos maiores contadores da história da indústria cinematográfica norte-americana. Por isso, não há que enganar, The BFG (O Amigo Gigante) é um claro filme de Spielberg, confortavelmente composto pelo sua costura clássica e embrulhado com os últimos avanços tecnológicos que adquirem o seu quê de “credibilidade“.
É a pausa do cinema politico que o realizador tem vindo a tecer nos últimos anos e o retorno aos condimentos que fizeram ET um verdadeiro êxito. Obviamente que o cinema dito blockbuster atual segue em outras direções, contraiu uma faceta de multi-plataformas e foi influenciado por essas referidas e paralelas convenções. Já soa um cliché mencionar a megalómana indústria Marvel para perceber um pouco como funciona a indústria dos nossos dias, mas é talvez essa comparação que nos leva a “conspirar” porque é que um filme como The BFG, ligado a um nome mundialmente reconhecido, falhe nas bilheteiras do seu país.
Spielberg esboça um ingrediente hoje perdido nesse grande cinema de entretenimento – ingenuidade – não da forma ignorante ou “acanhada” como muito do cinema de teor politico (e não só) que parece hoje tomar, mas a inocência do simples storytelling, e se não for, a suposta atribuição desta. Ao ver The BFG vem-nos os aromas de um cinema perdido, a fantasia levada com exclusividade na grande tela, e Spielberg reconhece essa extinção que só poucos autores, muitos deles veteranos nestas andanças, continuam a invocar (com exceção do jovem J.J. Abrams, o “aprendiz” que tem vindo a reafirmar esse tão obsoleto toque com alguma eficácia). Por isso não esperem aqui um revitalizador Spielberg, como havia sido mostrado em Munique [ler crítica] ou até mesmo em Lincoln [ler crítica], porém, aguardem por um cineasta que resiste ao tempo, mesmo que este não seja o seu melhor amigo.
Como cedência ao mesmo, os efeitos visuais são de topo, com Mark Rylance, a caminho de se tornar num dos eventuais colaboradores do realizador, “vestindo” a pele deste simpático gigante possibilitado com o método “motion capture“. Os resultados suscitaram no espectador algumas curiosas afinidades. A companhia deste gigante pedaço de CGI é a jovem atriz Ruby Barnhill, de carne e osso, que nos retransmite essa mesma sensação de inocência de primordial.
Quanto às iminentes imaturidades da história e o desfecho inacreditavelmente fácil, isso, só será possível ao reclamar com o próprio Roald Dahl, que não faz parte deste mundo há mais de 26 anos. Todavia, os seus relatos continuam a inspirar gerações, em particular um “menino” chamado Spielberg.
O melhor – os efeitos visuais, a narrativa confortavelmente “spielbergeana“
O pior – é vintage, mas mata as saudades!
Hugo Gomes