«The Hunger Games» (Os Jogos da Fome) por João Miranda

Num futuro próximo, após algum tipo de cataclismo, uma sublevação popular teve de ser controlada de forma violenta, dando origem a um país muito desigual, onde todos os anos cada distrito da periferia tem de enviar duas das suas crianças para a capital onde se enfrentam todas até à morte nos chamados “Jogos da Fome”. Esta é a premissa do filme baseado no primeiro de um série de livros para jovens que, admito, não li e, pela que vi no filme, não tenho vontade de o fazer: se o conceito parece arriscado (apesar de não original, como o mostrou José Pedro Lopes ontem aqui), os temas são pouco explorados e faltam dentes ao que poderia ter sido uma crítica feroz ao capitalismo, aos media e a outros temas grandes da nossa sociedade actual.
 
{xtypo_quote_left}Um filme simples para uma massa simples, “distopia for dummies” {/xtypo_quote_left}As comparações com Battle Royale (filme japonês de culto feito em 2000) têm sido feitas desde que saiu o primeiro livro, mas também nesta comparação o filme lançado agora fica a perder: se o japonês é cruel e mostra que a violência é algo feio (ainda que o possa fazer de forma cómica) e que há uma corrente perturbadora de sobrevivência agressiva debaixo do fino verniz da cultura, o filme americano parece-se mais com a política de negócios estrangeiros dos USA: tentam dar-se contornos moralistas ao uso da violência e criar “maus”, para que qualquer acto de violência seja justificado de alguma forma. Apesar de tentar evitar glorificar a violência e o uso de armas, é estranho que “Jogos da Fome” se transforma naquilo que quer criticar: um espectáculo de adolescentes a tentarem matar-se uns aos outros e que nos quer fazer torcer por um deles.
 
Tecnicamente, o filme é, como seria de esperar com um orçamento milionário, perfeito e é divertido ver os cameos todos, alguns deles quase irreconhecíveis, como Lenny Kravitz, e a construção kitsch da sociedade opulenta da capital. Mais uma vez, Jennifer Lawrence mostra que é uma grande actriz, mas o papel parece quase uma cópia do que já tinha feito antes em “Winter’s Bone”: uma mãe catatónica, uma irmã mais pequena a defender, a caça, as técnicas de sobrevivência e a persistência.
 
Pode ser que a grande falha do filme seja colmatada em filmes posteriores, mas, por si só, este filme fica muito aquém do que poderia ser, limita-se a uma “distopia for dummies”, sem dentes e sem ser incómodo, a revolução pré-digerida, pronta a comer e sem quaisquer efeitos secundários. Uma pena.
O Melhor: Jennifer Lawrence.
O Pior: Perde a oportunidade de fazer uma crítica a temas que aborda superficialmente.
 
 João Miranda
 
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