Há cerca de 30 anos, na noite de 22 para 23 de outubro de 1988, pelas 0h15, uma bomba incendiária numa das duas salas do Espace Saint-Michel, um dos cinemas mais antigos de Paris, provocou o caos. O alvo era A Última Tentação de Cristo. Catorze espectadores ficaram feridos, quatro em estado grave, e o incêndio levou ao encerramento do cinema durante três anos. Jack Lang, ministro da Cultura da França, foi ao cinema após o incêndio e disse: “A liberdade de expressão está ameaçada, mas não podemos ser intimidados por tais atos.”
Um grupo fundamentalista católico, ligado a Bernard Antony, representante do partido Frente Nacional no Parlamento Europeu, e a seguidores do arcebispo Marcel Lefebvre (que foi excomungado pela Igreja Católica meses antes), foram associados ao crime. Várias pessoas foram detidas e quatro condenadas a penas suspensas entre os 15 e os 36 meses. Este não foi um caso único de violência contra quem assistia ao filme, mas certamente o mais grave em França.
Adaptado de um romance de Níkos Kazantzákis, o filme de Martin Scorsese gerou grande polémica desde a sua conceção. Logo a início, a Paramount, que originalmente produzia o filme, afastou-se. Veio depois a Universal que recorreu ao Ministério da Cultura de França para obter financiamento adicional. Primeiro, o governo francês aceitou, mas depois recuou após vários protestos e milhares de cartas enviadas por grupos fundamentalistas cristãos. O filme viria a ser concretizado e estreou, mas mundialmente os protestos foram muitos e chegaram a vários países.
Em causa estava o afastamento da interpretação bíblica comumente aceite da vida de Jesus. Afastando-se parcialmente dos Evangelhos, Jesus Cristo luta contra várias formas de tentação, mas provoca gritos de blasfémia quando mostra a sua relação de próximidade com Maria Madalena.