Críticas Indie Lisboa: ‘Como desenhar um círculo perfeito’ por João Miranda

Há já algumas décadas que o cinema português é atormentado por um miserabilismo e uma estética do feio, como se essas duas características lhe conferissem a profundidade que a história e as personagens não têm. Importado de França, este estilo foi rapidamente adaptado à realidade portuguesa e traduz-se numa série de elementos que são repetidos de forma agoniante em grande parte da produção nacional. “Como desenhar um círculo perfeito” sofre deste sintoma: temos os edifícios delapidados, a família disfuncional, o Cais do Sodré, o sexo despropositado, incesto e outros afins.

Depois de “Alice”, não se percebe como Marco Martins fez este filme. Fica a ideia de que teria sido possível algo melhor se se tivesse livrado de todos esses clichés e tivesse tentado construir mais as personagens e as situações. Beatriz Batarda, uma actriz que já mostrou o que vale, é aqui dada a tarefa ingrata de tentar preencher toda uma personagem a partir de umas poucas linhas, sendo, mesmo assim, a melhor presença no ecrã.

Uma quezília pessoal com este filme é a forma como Lisboa é retratada nele: o conhecimento das ruas em que supostamente este se passa é uma viagem sobre uma geografia fracturada e impossível, tendo de abandonar o que se sabe para que a história possa assumir o seu papel. Não percebo de todo a razão para fazê-lo e, como um amante desta cidade, parece-me que fica mal servida com isso.


A Base: Depois de “Alice”, não se percebe como Marco Martins fez este filme…4/10

O Melhor: Beatriz Batarda.
O Pior: Os clichés.

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