Trabalho de Hannah Arendt sobre o julgamento de Adolf Eichmann vira filme de Margarethe von Trotta

Hannah Arendt 

A cobertura jornalística do julgamento de Adolf Eichmann por Hannah Arendt é o centro do novo trabalho da veterana cineasta alemã. Com filmagens em Jerusalém, Luxemburgo e na Westfalia (Alemanha), o filme é protagonizado pela veterana Barbara Sukowa, que já trabalhou com von Trotta em outros cinco filmes.
 
Hannah Arendt cobre quatro anos da vida da filósofa. Exilada nos Estados Unidos após a subida ao poder de Adolf Hitler, Arendt foi enviada a Jerusalém pelo jornal New Yorker, em 1961, para cobrir o famoso julgamento de Eichmann, um dos mais importantes executores do holocausto nazi. O trabalho de Arendt rendeu um livro que se tornou um clássico – “Eichmann em Jerusalém – A Banalidade do Mal”.
 
Sem que ainda se possa saber sobre resultado cinematográfico da abordagem, vale dizer que o pano de fundo histórico é de grande interesse. Eichmann foi uma das mais emblemáticas figuras da crueldade da famosa “solução final” que os nazis tentaram levar a cabo na 2ª Guerra Mundial. Respondendo diretamente a Heydrich, um dos líderes do regime, foi um idealista extremamente pragmático da máquina operacional necessária para viabilizar a execução de seres humanos em massa. Após o final da guerra, conseguiu fugir com passaporte falso para a Argentina, país onde viveu pacificamente até ser sequestrado pelo Mossad, em 1960, e levado para Jerusalém para ser julgado. 
 
 O julgamento de Eichmann
 
Em Jerusalém, defendeu-se das acusações sem demonstrar qualquer culpa ou arrependimento – afirmando que apenas se limitava a cumprir ordens. Foi esse comportamento que influenciou Arendt a desenvolver a sua ideia a cerca da “banalidade do mal”, em que negava a noção de que os criminosos de guerra alemães eram psicóticos diferentes das pessoas “normais” – ideia de humanização semelhante, aliás, ao retrato de Hitler feito por Oliver Hirschbiegel em A Queda. Esta tese gerou grande controvérsia. Eichmann foi condenado e enforcado em 1962.
 

Hannah Arendt, o filme
 
Em entrevista ao Instituto Goethe, von Trotta afirmou que o grande desafio foi colocar em imagens os pensamentos de Arendt – e veio daí a insistência em que fosse Sukowa a fazer de Arendt, pois a sua experiência em filmes como Rosa Luxemburgo a habilitavam a captar com precisão o discurso da filósofa – assim como da sua capacidade de improvisar. Eichmann, por sua vez, não foi vivido por nenhum ator: a realizadora entendeu que seria impossível dar um carácter realista o suficiente a figura do criminoso nazi – que aparece no filme sempre com imagens de arquivo do julgamento. Von Trotta já realizou biografias sobre mulheres importantes, como o já clássico Rosa Luxemburgo, de 1986, e uma recente abordagem sobre vida da freira Hildegard von Bingen, de 2009. Em Portugal foi lançado em 2003 outro dos seus filmes mais importantes, As Mulheres de Rosenstrasse.
 
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