Com I Love Kuduro nos cinemas portugueses, o C7nema teve a oportunidade de falar com o realizador Mário Patrocínio sobre esta demanda musical na terra dos “batuques”.
Como surgiu a ideia deste projeto? Porquê o Kuduro e não outro estilo musical?
A vontade de fazer um filme sobre assunto surgiu quando morávamos no Brasil, com o objetivo de concretizar o projeto “Complexo – Universo Paralelo“. Foi nessa altura que comecei a escrever a sinopse do filme “kuduro”. Mas a paixão e a curiosidade sobre o tema já vêm dos meus tempos de faculdade quando em meados dos anos 90, o kuduro apareceu em força em algumas discotecas de Lisboa. Já na altura me interrogava onde viriam aqueles beats frenéticos com animações que pareciam “non sense” mas que nos faziam viajar. O ritmo era contagiante e a música era acompanhada de animações ao vivo com danças e “toques” que levavam as discotecas ao rubro. A animação e a energia que se sentia eram completamente diferentes do que se passava noutros contextos: faziam-se rodas de dança no meio da pista e assistia-se às performances dos bailarinos e MC’s, que com um estilo muito próprio conseguiam pôr toda a gente a dançar. Queira saber mais sobre o kuduro, como era feito, quem eram os verdadeiros protagonistas daquele som.
Há três anos, quando resolvemos desenvolver o projeto do kuduro, conhecemos um empreendedor cultural, o Coreón Dú, que também queria contar a história do kuduro. Com um objetivo comum juntámos esforços e concretizámos o “I Love Kuduro“.
Em Complexo – Universo Paralelo a tentativa foi de desmistificar uma da mais infames favelas do Rio Janeiro expondo o seu quotidiano. Em I Love Kuduro tentaram fazer o mesmo com o estilo musico em si?
Nós procuramos histórias que nos inspirem de alguma forma especial e que sintamos que merecem e devem ser partilhadas com o mundo. O kuduro, como referi na questão anterior, foi algo que desde cedo despoletou em mim uma enorme curiosidade. Com o passar do tempo a noção do fenómeno enquanto movimento cultural contemporâneo urbano e africano veio trazer-me também, e cada vez mais, a consciência de que havia uma profundidade no kuduro que ia para além da música e da dança. Quando fomos para o terreno fazer pesquisa sobre o assunto, ouvir os verdadeiros intervenientes da história do kuduro até aos dias de hoje, e falar com uma série de pessoas que viveram ou estiveram envolvidas no crescimento do fenómeno, tivemos a certeza que essa profundidade do kuduro tinha que ser partilhada.
Existe em I Love Kuduro um certo rigor no tratamento da fotografia, nos dias de hoje é mais relevante um documentário apresentar estilo visual ou concentrar-se no conteúdo?
Tudo é relevante, mas o conteúdo é o que segura qualquer filme. Mas dependendo do tema, o próprio estilo visual pode transformar-se em conteúdo.
Com que “olhos” veem o panorama actual dos documentários de produção portuguesa?
A única certeza que tenho é que Portugal tem realizadores talentosos mas que os filmes que são feitos dificilmente chegam às pessoas.
A seguir a I Love Kuduro?
Existe um projeto que nos tem inspirado especialmente. É a nossa primeira ficção e é uma adaptação do livro “As mulheres do meu pai” do escritor angolano José Eduardo Agualusa. Para além disto a BRO está a desenvolver outros projetos em diferentes áreas sendo que a nossa prioridade é e sempre será encontrar histórias que nos movam, que nos apaixonem, que mereçam ser contadas e partilhadas!