The Father: pára-me de repente o pensamento

Olivia Colman and Anthony Hopkins appear in The Father by Florian Zeller, an official selection of the Premieres program at the 2020 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute | photo by Sean Gleason.rrAll photos are copyrighted and may be used by press only for the purpose of news or editorial coverage of Sundance Institute programs. Photos must be accompanied by a credit to the photographer and/or 'Courtesy of Sundance Institute.' Unauthorized use, alteration, reproduction or sale of logos and/or photos is strictly prohibited.

Inspirado na avó que começou a sofrer de demência, Florian Zeller escreveu há oito anos a peça “The Father” (O Pai), que passou por Portugal no Teatro Aberto em 2016, com João Perry no protagonismo e encenação de João Lourenço.

Adaptando agora essa mesma peça à sétima arte, e com suficientes mudanças para criar uma nova experiência, Zeller conta com dois nomes poderosos da interpretação, ambos já vencedores do Oscar, que se entregam de corpo e alma no papel de um pai e de uma filha em confronto sistemático. O centro de tudo e o ponto de vista que seguimos é o de Anthony (Anthony  Hopkins), um idoso a caminhar a passos largos para a senilidade, que choca com as pretensões da filha, Olivia Colman em ter uma cuidadora.  E se tudo começa com o desaparecimento de um relógio, que provavelmente até está no esconderijo habitual de Anthony, mas que ele se esqueceu, muitas outras histórias, embirrações e dramas vão surgir, ficando o espectador entregue cinematicamente à dura realidade do idoso, não sabendo bem o que é verdade ou mentira, real e imaginado, sonho ou pesadelo. 

Utilizando uma narrativa fragmentada e personagens que mudam constantemente de feições, Zeller enclausura-nos na mente confusa de Hopkins, deixando-nos tão abandonados e angustiados como ele. E é nesses momentos, em que as pessoas mudam de feições, os espaços não são mais reconhecíveis, e não vale a pena tentar explicar a alguém como as coisas  “mudaram”,  que Hopkins entrega o melhor de uma atuação verdadeiramente devastadora em expressividade. Aqueles silêncios, as dúvidas, em que o que é afinal não é, e o que aconteceu se calhar não aconteceu, são formas cinematograficamente bem engendradas por Zeller para fazer uma viagem pela demência e confusão mental de um homem em clara perda de faculdades mentais.

E embora muitas vezes se sinta que ainda estamos numa peça de teatro, especialmente porque estamos encerrados em cenas interiores e com escassas personagens a interagir num único cenário, “The Father” consegue ser cinema em toda a sua plenitude e até ter marcas distintas do suspense e códigos do horror para deslindar o puzzle que é a mente de Hopkins.

(crítica originalmente escrita em setembro 2020)

Pontuação Geral
Jorge Pereira
Guilherme F. Alcobia
the-father-para-me-de-repente-o-pensamentoFlorian Zeller adapta a sua peça à sétima arte com suficientes mudanças para criar uma nova experiência
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