Por entre folias e o percurso de punhos erguidos, 120 Battements par Minute faz-se por um ritmo inconstante, uma partitura de guerra onde o rancho dos soldados tombados, ou em vias de tombar, adquire uma importância dimensional neste eterno confronto. Depois de Eastern Boys, o franco-marroquino Robin Campillo regressa ao universo Queer (talvez nunca tenha saído de lá), palavra que os meros adeptos de etiquetas persistem em catalogar. Mas o que vemos não é um enésimo caso “armareado”, é um coletivo retrato de todos nós.
Fora géneros e orientações, 120 BPM é um filme sobre a celebração da vida e o quanto queremos residir nesse “bailado”. Até a morte, maioritariamente induzida como assombração, revela-se uma celebração quando surge, anunciando a chegada de uma nova etapa. Se a vida é na realidade uma compostura de etapas, daquelas que nos comprometem com novos desafios, objetivos e porque não, amores, 120 BPM usufrui desta metamorfose cíclica de forma a estruturar uma narrativa aberta, sem a recolha de moralismos-objetivos, mas o de simular a vida em mudança através do seu ritmo desalinhado.
Desalinhado … e sob a luz de diferentes cocktails. A hibridez dos teores ocasionalmente nos proporciona uma transposição de imagens, transportando o espectador para além das dimensões. A danceteria que se converte gradualmente num ensaio de moléculas, representações viventes que se estabelecem ou desintegram. A beleza desta experimentação estética condensa a sentença destes guerreiros condenados que se refugiam, temporariamente, numa bolha social.
Determinados em defender a igualdade, a possibilidade de conservar a vida que possuem em prol das mudanças do seu sistema social, uma contradição vista que 120 BPM é uma obra de extremo contágio com os solavancos da longevidade (o destino que nos espera ou que nos faz esperar), e que encontra em Nahuel Pérez Biscayart o melhor dos peões, nessa submissão pelas mesmas e gritantes nuances.
E assim, depois do conflito que intercala esse mesmo trilho, os soldados repousam mais uma vez. Não basta somente combater. Há que aproveitar esse sabor de utilidade e instituir nele um código. A vida tem destas coisas e, de certa maneira, o Cinema também.