«Black» (Amor em Tempos de Ódio) por André Gonçalves

Se as boas intenções contassem como arte, “Black” seria um dos objetos mais marcantes de 2016. Não contando, segue para reforçar o ditado: “de boas intenções está o inferno (cinematográfico) cheio“. 

A história de “Black” segue o modelo clássico Shakespeariano de amor proibido entre dois membros de “famílias rivais” . Neste caso concreto, temos um decalque sem canções (e sem vida) da história de “West Side Story” totalmente adaptado à realidade europeia contemporânea: um amor que nasce entre dois gangs rivais de negros e marroquinos. Ela, Mavela, uma adolescente negra, conhece um dia na esquadra Marwan, marroquino e da gang rival, e terá que optar entre a lealdade do seu grupo e o amor às escondidas que sente. 

Infelizmente, o que transparece logo na primeira bobine são as fracas ambições do projeto cinematográfico em si face à história bombástica – se clássica, e recontada várias vezes sob vários prismas –  que tem para nos contar. As personagens são superficiais, contando-nos tudo o que está em jogo via diálogos sem qualquer traço de ironia ou subtileza presentes, escarrando pedaços de diálogo risíveis com uma seriedade louvável – e talvez daí saía um “buzz” merecido para os atores Martha Canga Antonio e Aboubakr Bensaihi, que aguentam bem um filme que podia ser resumido num panfleto. A realização acompanha estes personagens num tom igualmente sóbrio e sem uma única ideia original, previsivelmente embelezando os momentos românticos entre o casal proibido, e explorando o sofrimento que está para vir (“gang bangs“) de uma forma previsivelmente exaustiva. 

Assim, mesmo pesando as melhores intenções e a uma descrição minimamente convincente da divisão social que ocorre atualmente no coração de uma Europa cada vez menos tolerante, torna-se difícil simpatizar de alguma forma com o produto final, quando há outros mais títulos desafiantes e menos previsíveis a lidar com temáticas semelhantes ao virar da esquina. 

O melhor: As intenções de fazer um “West Side Story” para a realidade contemporânea, exaltando o racismo e xenofobia existentes.

O pior: A concretização dessas intenções. 

André Gonçalves

 

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