A dupla Agostinho Ferrente e Giovanni Piperno segue pisadas semelhantes às do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho, falecido em fevereiro do ano passado, o qual havia feito com igual perseverança e regulamentação com os elementos temporais em “Cabra Marcado para Morrer” (1985). Nesta obra, que adquiriu grande valor na cinematografia brasileira, Coutinho revisitava nos anos 80 uma família do Noroeste do Brasil que tentou filmar duas décadas antes (tendo sido impedido de continuar o projecto original em consequência do regime militar que o país vivia). Ou seja, este documentário “brinca” com as mesmas condições prescritas do tempo e da memória. E em épocas do hype de “Boyhood”, “Le Cose Belle” surge como uma confirmação de paciência enquanto estilo fílmico de produção.
Mas apesar do seu processo criativo, que por si realçará os atributos do filme enquanto obra de estudo etnográfico, “Le Cose Belle” apela diversas vezes à emoção, não só aos dramas humanos contados sob um jeito nostálgico perdido, mas como a música que funciona nessa linha unificada de passado e presente, com claro vislumbre para o futuro. As crianças de ontem, os adultos do amanhã, o espelho dessas duas faces, estão lado-a-lado neste registo cinematográfico. Vale a pena espreitar as “coisas belas” da vida!