Os thrillers policiais tem incontestavelmente um papel importante na cultura dinamarquesa. São inúmeros os títulos que fizeram deste género uma espécie de imagem de marca da literatura e cinema escandinavos. Com o passar dos anos tornaram-se célebres por todo o mundo como sendo thrillers complexos, violentos e extasiantes, nunca perdendo, contudo, a sua forma renovadora. O Guardião das Causas Perdidas (Kvinden I buret), de Mikkel Nørgaard, baseado no aclamado bestseller internacional escrito por Jussi Adler-Olsen, é uma das mais recentes adições a esse mesmo género.
A obra abre com um breve tiroteio que deixa o inspetor Carl Morck (Nikolaj Lie Kaas) gravemente ferido, um dos seus companheiros paralisado e outro morto. Culpado de imprudência aquando do planeamento da operação que se revelaria perigosa, Morck é rapidamente transferido da unidade de homicídios para um novo departamento, denominado de Q, onde o seu único companheiro é o tranquilo Assad (Fares Fares). O nome do departamento soa intrigante e misterioso a principio, mas rapidamente nos apercebemos que não passa de um trabalho burocrático para inspetores seniores que estão simplesmente à espera da sua aposentadoria, enquanto classificam e fecham casos dos últimos vinte anos. Porém, o sangue frio de Morck e a sua incontrolável vontade de agir, levam a melhor dele. A sua curiosidade é posta a prova quando este se depara com um caso de Merete (Sonja Richter), uma deputada bem sucedida que presumivelmente terá cometido suicídio ao saltar de um navio. Contudo, o facto desta ter levado consigo para o cruzeiro o irmão mais novo Uffie (Mikkel Boe Folsgaard), portador de uma deficiência mental e uma série de outros tantos pequenos-grandes pormenores que se fazem notar no arquivo, tornam o caso ainda mais enigmático e interessante. Apesar das ordens do chefe, Morck e os colegas partem em busca pela verdade e, ainda que as suas mentes instigadas pela curiosidade e o seu modus operandi improvisado leve a que muitas pessoas se sintam incomodadas (custando-lhes os seus postos), estes não desistem e gradualmente vão unindo os pontos de um acidente do passado e o súbito desaparecimento de Merete.
Apesar das duas narrativas não seguirem a mesma linha de tempo, o enredo não se torna confuso com os saltos constantes. Pelo contrário, o espectador recebe uma mistura meticulosamente preparada de cenas de investigação suspensas pelo repouso do olhar sobre o passado. O mistério em volta do caso em si é ultrapassado pela corrida contra o tempo, que conduz a um clímax que deixará certamente qualquer um sentando na ponta da cadeira, colimando num final intenso, que apesar de previsível, se revela satisfatório.
O melhor: A forte relação entre os personagens, nomeadamente de Morck e Assad; O enredo; As interpretações; A fotografia que vela o mundo diegético de Morck e o seu carácter.
O pior: O desfecho previsível.
Nuno Gonçalves