«The Priest’s Children» (As Crianças do Sacerdote) por Nuno Miguel Pereira

Em plena silly season será complicado sair do filme “pipoqueiro” americano típico da época de blockbusters. Nesse sentido, tudo o que fuja à normalidade “Hollywoodiana” tem pouca distribuição e ainda menos marketing.

É precisamente aqui que entra As Crianças do Sacerdote, de Vinko Bresan, um filme croata – país com pouca tradição cinematográfica – que vai com certeza passar despercebido e não por culpa própria.

Para chegar a Portugal, teve de prestar provas primeiro, tendo sido um sucesso comercial gigante no seu país natal (o segundo filme mais visto de sempre), e arrecadado o principal prémio no Festroia.

A história começa quando Petar (Niksa Butijer), um vendedor de uma tabacaria local se confessa ao padre Fabijan (Kresimir Mikic). Na sua confissão admite ter pecado por estar a vender preservativos, numa cidade onde a taxa de mortalidade é demasiado elevada e os nascimentos cada vez menos.

É nessa altura que o ingénuo padre tem uma espécie de epifania: furar todos os preservativos com a ajuda de Petar, para aumentar a natalidade e os casamentos. Obviamente, as coisas não correm como o esperado.

O filme tem objetivos de comédia ligeira, mas abordando temas do mais negro que possam existir e esse é o seu erro crasso. O ambiente despretensioso e algumas piadas bem conseguidas, principalmente na primeira metade do filme, dão a entender que estaremos perante uma obra sem grandes ambições, que apenas quer divertir. No entanto, com o adensamento das temáticas e o negrume das mesmas a encher os ecrãs, o filme ganha outro tom, que nunca consegue dominar com mestria. As piadas ligeiras mantém-se, quando naquele momento seria necessário serem mais incisivas. Isto porque o filme aplica uma crítica severa aos costumes religiosos, ao racismo e à pedofilia que ocorre no seio da religião católica. Apesar de serem temas abordados, nunca são explorados. Nesse sentido, a visão de Vinko Bresan nunca foi suficientemente objetiva, perdendo-se em diversos temas sérios, mas abordando-os com excessiva leviandade.
Ainda assim, é uma boa proposta, que acaba por não atingir, ou criticar, ninguém diretamente, sendo por isso, mais facilmente digerível, sem nunca ir mais longe.

O Melhor: Algum humor negro inerente à obra.
O Pior: Pouco incisivo na crítica social que faz.


Nuno Miguel Pereira

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