«Cadences obstinées» (Cadências Obstinadas) por Roni Nunes

Numa cidade não identificada circulam personagens que falam aleatoriamente a língua que lhes apetece no momento, que tanto pode ser português, francês ou italiano. Em relação a um deles (Furio, vivido por Nuno Lopes) percebe-se o que está a fazer: chefiar a construção de um hotel; a sua mulher Margo (Asia Argento), a protagonista do filme, também: a maior parte do tempo ela não está a fazer nada. Já em relação aos outros é mais difícil saber porque andam ali nesta trajetória que une o alheamento proposital com o atabalhoamento narrativo (não intencional, bem dito).

Não se percebe onde pretendia chegar Fanny Ardant, um dos ícones históricos do cinema francês, nesta sua segunda obra como realizadora. Cadências Obstinadas narra a “história” de uma mulher que abandonou a música para dedicar-se ao marido, mas cujo relacionamento está a chegar ao fim. O resto é o marido freneticamente a lidar com os chefes (uns tipos meio mafiosos que nunca se chega a saber o que são de facto) e a ameaçar a esposa de porrada, o seu parceiro Mattia (Ricardo Pereira, ainda assim o que se safou melhor em termos de personagem), um bandalho sem finalidade aparente que passa o tempo a tentar a sorte com a mulher do “amigo”, e assim por diante.

Soa tudo tão falso que facilmente se chega àquele momento em que o espectador deixa de se interessar pela sorte dos personagens. Quem leva com o maior barrete deste argumento em agonia é Asia Argento, obrigada a movimentar-se tempos sem fim e a intercalar as suas perambulações pretensamente intimistas com crises de histeria.

Para tratar deste tema já gasto, Ardant apostou também na música (clássica, principalmente) e em algumas poses para a fotografia, emulando uma espécie de arthouse que já anda há alguns anos a criar mofo. Na verdade, tudo parece grotescamente pesado, como se fosse uma reprodução borrada de um quadro de outros tempos – eventualmente a era dourada de um certo cinema de autor que não precisava justificar-se perante a opinião alheia. É pena para o elenco português, que desde que o governo lusitano decidiu exterminar o cinema nacional, bem precisa destes projetos para mostrar seu talento.

O Melhor: o empenho do elenco principal, mesmo assim
O Pior: é um filme globalmente falhado


Roni Nunes

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