«Shield of Straw» por Jorge Pereira

Shield of Straw é um verdadeiro blockbuster no conceito, mas a sua execução nas mãos do multifacetado Takashi Miike – capaz de produzir obras de época, filmes infantis e outros que roçam os extremos (nunca me esquecerei de Visitor Q e Gozu) – ganha uma nova dinâmica onde questões de moral e ética evidenciam-se e relegam para segundo plano o ponto de vista de entretenimento básico de grandes sequências de ação.

Uma menina é assassinada por um serial killer. O avô desta coloca um recompensa de mil milhões de Ienes (cerca de 70 milhões de euros) para quem matar o criminoso. Este, com a cabeça a prémio, decide entregar-se à polícia, cabendo a estes agora a sua proteção contra uma multidão em fúria. Esta espécie de Assalto à 13ª Esquadra retorcida para as ruas e meios de transporte nipónicos coloca cedo os seus valores em cima da mesa. O vilão é uma verdadeiro monstro que não merece piedade, mas cabe à justiça condená-lo e não ao publico. E apesar dos policias que o escoltam terem todos razões para serem eles a porem um fim à vida de quem devem proteger, do alto sobrovoa sempre uma ética e honra que diz que cabe à policia agir de acordo com a lei.

Com mais conversa  (as vidas familiares das personagens são trazidas à baila para mostrar as várias cruzes que cada um carrega) que sequências de ação mirabolantes, Miike procura através da escalada da violência por parte do serial killer dificultar ao máximo a decisão dos policias/protetores. Será que vale a pena morrerem por este homem? A resposta aparentemente simples é esticada até chegarmos ao desenlace, o que torna o filme bastante interessante e energético de se seguir até bem perto dos 45m, mas um pouco penoso e redundante na sua segunda metade.

Com isto fica mais um registo de Miike, que podia facilmente ceder a tentações Hitchcockianas de colocar no centro da ação um inocente, mas que preferiu seguir uma linhagem diferente e questionar todos aqueles que são contra os vigilantes, a pena de morte e até o que se gasta com os criminosos. E como o dinheiro e a necessidade estão também em jogo, já que conseguem transformar homens desesperados facilmente em assasssinos contratados, o filme ganha uma nova camada para distrinçar. No final fica a questão: Valeu realmente a pena proteger o assassino?  

O Melhor: Dinâmico na sua primeira metade e moralmente susceptível de discussão
O Pior: A certo ponto torna-se redudante e derradeiramente frustrante


Jorge Pereira

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