Terça-feira, 19 Março

«Umbrella Academy»: vem aí o Apocalipse, ou talvez não

Estávamos em 2009 quando foi anunciada uma adaptação cinematográfica da novela gráfica Umbrella Academy pelas mãos da Universal Pictures. Mark Bomback (argumentista de Constantine) estava a escrever o guião. O projeto nunca avançou para filme e 10 anos depois chega à Netflix, em formato de série.

Vencedora em 2008 do prémio Eisner, esta BD da Dark Horse foi criada por Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance e desenhada pelo brasileiro Gabriel Bá. Os dois são produtores executivos da série, que pesca influências claras nos X-Men, Quarteto Fantástico e até Watchmen e Misfits. Numa entrevista ao Nerdist há dois anos, Way falou ainda no sentido de paranóia da série britânica dos anos 60 The Prisioner, enquanto Bá menciona a “vibe” Delicatessen.

Nesta versão TV, a paranoia está presente, mas salta à vista uma estrutura de um grupo de super-heróis e anti-heróis na mesma família movida essencialmente pelas suas disfunções, traumas e o peso do legado, que carregam desde a infância e que trarão consequências para o futuro.

Tudo começa na 12ª hora do dia 1 de outubro de 1989. Cerca de 43 mulheres dão simultaneamente à luz em todo o mundo. Nenhuma delas estava grávida no início desse dia. Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore), um excêntrico milionário e aventureiro, decide localizar e adoptar o máximo dessas crianças que pode, conseguindo sete delas. Passamos então para os dias de hoje, descobrindo que seis delas têm superpoderes e foram treinadas para serem uma equipa de super-heróis na Umbrella Academy.

Temos assim Luther (Tom Hopper), o número 1, possuidor de uma incrível super-força e plantado na Lua numa missão; Allison (Emmy Raver-Lampman), a número 3, uma atriz com capacidade de convencer as pessoas a fazerem o que quer, começando as suas frases com “Eu ouvi um rumor“; Klaus (Robert Sheehan), o número 4, extravagante e com apetência para as drogas capaz de falar com os mortos, especialmente com Ben, o número 6 (Ethan Hwang), um membro falecido da Umbrella Academy; o número cinco (Aidan Gallagher), um adulto no corpo de uma criança com o poder de viajar no tempo; Diego (David Castañeda), um expert em luta capaz de manejar facas como ninguém; e Vanya (Ellen Page), amante de violino mas sem poderes, o que a tornou instável pela constante exclusão das atividades do grupo.

Esta equipa volta a reunir-se nos tempos que correm para preparar o funeral do “pai”, Sir Reginald, recentemente falecido. Com eles e na mansão onde viviam, ainda permanecem a “mãe”, uma robô, e Pogo, um macaco com comportamento humano.

O MacGuffin por aqui está no regresso do número 5 após viajar pelo tempo e descobrir que o mundo está prestes a acabar. A partir deste momento, a série encaminha-se para sequências e sequências de ação que envolvem mais dois assassinos, mas se estas correm os caminhos normais (para não dizer banais) das séries e filmes do mesmo género, com um piscar de olho ao mundo de assassinos estilizados e burlescos, a série consegue os seus melhores momentos quando viaja constantemente à frente e atrás na histórias para mostrar como cada um destes jovens foi educado por Sir Reginald na infância, e como se transformaram hoje em dia no que são.

 

Curiosamente, o melhor da série acaba também por ser o seu pior defeito, pois em vez de acompanhar o desenrolar de eventos que se adivinham a léguas, explorando no processo a desconstrução dessas personagens, procura-se elevar o segredo “final”, que bem vistas as coisas não é assim tão grande como os responsáveis pela série estão em crer que é.

O espírito e o tom da série

Há significativas alterações em relação à banda-desenhada, mas para Gerard Way a série da Netflix foi habilmente adaptada, conforme disse em entrevista ao Collider: “A aquilo que prefiro na série – e há uma série de coisas, é que mantiveram o ambiente estranho“. “Realmente queríamos ver estas personagens a se expandirem e as suas histórias a serem contadas de forma mais longa, para que o público aproveite mais e passe mais tempo com elas“.

Já Bá concordou que a versão de TV soa fiel ao espírito da BD e mostrou estar feliz por alcançar um público que necessariamente não conheceria a história noutro formato. “Eles mantiveram a essência das personagens, fizeram isso muito bem“, disse, acrescentando que existem ideias novas para todos e para a história, que são ótimas, encaixam e contribuem para a mitologia.

Banda Sonora

Apesar do criador da BD ser o vocalista dos My Chemical Romance (MCR), não esperem encontrar por aqui os temas desta banda. E embora Way também não tenha escrito novas músicas para a banda sonora, contribuiu com covers de “Hazy Shade Of Winter” (Simon e Garfunkel) e “Happy Together” (The Turtles), ambos com a participação de Ray Toro, dos MCR.

À banda sonora original composta por Jeff Russo (Fargo; Star Trek: Discovery) são adicionadas músicas de Radiohead, Queen, The Doors, Bay City Rollers, They Might Be Giants e Nina Simone, entre muitos outros. Logo a abrir, no primeiro episódio, são os Kinks e o seu tema “Picture” a dar as boas vindas aos 7 bebés que Sir Reginald adotou.

Notícias