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“True Detective 3”: um regresso sólido, mas pouco espetacular

Em 2014, True Detective contribuiu – sobremaneira – para a forma como se aproximava cada vez mais a linguagem do cinema à linguagem televisiva. Essa aproximação, fusão, ou implementação do cinema no pequeno ecrã (escolham o termo),  muito por culpa do realizador Cary Fukunaga, tornou essa temporada num objeto de culto, um centro para futuras comparações entre produtos de entretenimento, quer televisivos, quer cinematográficos. Não se inventava a roda, nem lá perto, mas a série foi suficientemente impactante para criar uma segunda temporada, a qual se viria a revelar desastrosa, mal aproveitada e que colocou todo o conceito criado por Nic Pizzolatto num limbo.

Em 2019 regressamos às origens da série, mais uma vez com dois detetives a lidar com um caso passado, mas em vez das duas linhas temporais da temporada protagonizada por Matthew McConaughey e Woody Harrelson (agora produtores executivos da série), temos três. É nesses três tempos que acompanhamos uma narrativa que segue Stephen Dorff e Mahershala Ali, os detetives Roland West e Wayne Hays.

O caso inicia com o desaparecimento de duas crianças em 1980 no Arkansas, surgindo Hays novamente em 1990 a fazer um depoimento sobre os eventos, e  já nos tempos correntes, onde envelhecido e com demência, dá uma entrevista a uma equipa de televisão de um programa chamado True Criminal.

A primeira linha temporal é densa, mas derivativa, acompanhando os esforços dos detetives para investigar o desaparecimento dos miúdos, observando o espectador a problemática vida familiar deles e as potenciais ameaças na sua região, onde não faltavam cadastrados e jovens marginais com segredos por revelar. Na construção estética e entrega dos elementos, não faltam alguns simbolos dignos do cinema de terror e mistério, como bonecas assustadoras, florestas e grutas que entregam algum misticismo (recentemente, a série francesa A Floresta seguia a mesma linha). Mas a grande mais valia desta temporada está nas declarações de 1990, onde uma reviravolta processual põe em causa toda a investigação do caso no passado. Já na atualidade, as mensagens transmitidas para o espectador são crípticas na relevância, sendo provável que nos próximos episódios (apenas foram lançados e vistos os primeiros dois) surjam novos elementos de pertinência para esta linha temporal.

A boa direção, entregue ao muito interessante Jeremy Saulnier – responsável por Ruína Azul, Green Room [1] e o enorme Hold The Dark (filme Netflix) – relançou, ou antes, ressuscitou True Detective das cinzas, cabendo a um enorme Mahershala Ali e a um Stephen Dorff bastante sólido o encanto de nos prender. É certo que muitas vezes pensamos que estamos a ver apenas elementos reciclados que fizeram furor na primeira temporada (soa a Hit Parade), mas para já estamos perante um objeto maioritariamente compacto que nunca soa a lufada de ar fresco, ou impõe espetacularidade, mas que embaralha bem as ideias e acrescenta uma boa dose de mistério. Esperemos é que personagens como da repórter dos tempos correntes não sejam meros indicadores de uma chuva de clichés que está para vir.