Terça-feira, 19 Março

«Better Things»: a genialidade de Louis C.K. e a excelência de Pamela Adlon.

Criada por Pamela Adlon e Loius C.K., a série FX é uma espécie de comédia autobiográfica. «Better Things» conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe divorciada que sozinha, cria três filhas. Longe de ter a vida glamourosa de uma atriz de Hollywood, Sam esforça-se para encontrar trabalho de forma a poder pagar as contas e cuidar das três filhas: Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward). A sua mãe, Phyllis (Celia Imrie), vive ao lado e continua a ser uma presença quase constante na vida da filha e das netas, mas a Phyllis só é permitido aparecer  quando é convidada.

A comparação (saudável) à saudosa «Louie» é inevitável: a abordagem aos bastidores do show business e às personagens características e peculiares do meio, o realismo das relações humanas e a cinematografia.

Mas é na personagem principal e criadora, Pamela Adlon que está a majestade deste projeto.  Adlon, atriz, autora, realizadora, produtora é atualmente um dos rostos mais importantes da comédia norte-americana. Se Louis influenciou Adlon, ela também lhe fornece fonte inesgotável de inspiração. É uma parceria e tanto!

Em «Better Things» não há a habitual frustração parental que se concentra na mãe como uma mártir em vez de ser exposta como um ser humano real com ideais, desejos e necessidades. A Sam Fox interpretada por Pamela Adlon é explicita no seu monólogo interno e é muito fácil compreendermos as suas motivações. Os seus pensamentos são muitas vezes apresentados através de storytelling, uma técnica tão familiar aos fãs de «Louie».

«Better Things« é, no entanto, uma experiência mais íntima do que «Louie» e é importante notar que a maternidade apesar de ser o foco central da série, não assume a totalidade do argumento. É que mesmo quando Sam é exposta às exigências das filhas, do trabalho e dos amigos, o ponto de vista da personagem principal permanece claro, a sua posição é explicita e as suas prioridades não são ocultadas.

Feminista, sem extremismos, a série FX mostra uma mãe que encoraja as filhas a seguirem os seus sonhos e a serem fiéis a si próprias. Os ideais feministas, são espelho do próprio ativismo de Adlon e não é claramente  uma opção de marketing da série, está impresso no próprio ato de escrita.

Sam é uma mãe maravilhosa a sua abordagem perante a parentalidade é bastante inocente e por vezes árdua. Dedicada às filhas e respeitadora das suas peculiares formas de ser e de estar, tem como objetivo máximo que as três jovens se tornem boas pessoas e não apenas crianças bem comportadas. Mas a série nunca entra em território lamechas, o potencial de sentimentalismo é invariavelmente interrompido por alguns dos aspetos mais realistas da vida de Sam, como a difícil missão de encontrar “cinco” preciosos minutos para se masturbar.

Tudo isso é inspirado pela vida real de Adlon – que na vida real é mãe solteira de três filhas – e é esta ligação à realidade que torna «Better Things crua, real e muito engraçada. As miúda são extraordinárias. São as crianças / adolescentes mais humanas da televisão atual. As suas histórias, vivências e gostos complementam o argumento de forma sublime. Uma é pura e inocente, outra tenta descobrir a sua sexualidade e orientações políticas e a mais velha é a típica adolescente que acha que já é adulta.

Em cada episódio de «Better Things», Sam lida com crises do dia-a-dia e no meio da “vida diária”, atores conhecidos, como Julie Bowen, Constance Zimmer e Bradley Whitford, têm cameos deles próprios ou interpretam versões de si próprios.

“Escrever o que sabe e conhece” é uma das regras fundamentais da escrita e meio caminho para o sucesso. A comédia autobiográfica pode, por vezes, ser auto-indulgente (de notar que os dramas autobiográficos, também), mas as boas e bem escritas tornam-se casos de sucesso. Usam o conhecimento íntimo das vidas dos seus criadores para expor as verdades que vão ressoar para um público que não passou pela mesma experiência. «Better Things» é 100% humana e 100% obrigatória.

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