Terça-feira, 19 Março

C7Tv: recomendações de 22 a 24 de setembro

Bem-vindos a mais um C7TV. Após uma ausência de duas semanas, o C7TV está de regresso com mais sugestões cinéfilas e a promessa de imensas viagens cinematográficas. Tanto podemos acompanhar um casal a reencontrar-se em pleno Death Valley, após a morte do filho, como temos a oportunidade de avançar pelas entranhas de Gotham. Podemos ainda dar umas voltinhas pela cidade de Roma dominada pelo crime e corrupção ou contactarmos com extraterrestres, sempre através do cinema.

Como não poderia deixar de ser o primeiro texto desta rubrica é dedicado “Paris, Texas”, um dos trabalhos mais marcantes de Wim Wenders. “Paris, Texas” é um filme sobre a solidão, sobre famílias que se despedaçam e se reúnem, sobre as ligações que se estabelecem entre um pai e o seu filho, sobre os laços entre dois irmãos, sobre o amor e as derrotas da vida, sobre um pedaço dos EUA e aqueles que habitam esta nação idiossincrática. É, também, uma obra sobre viagens transformadoras que transfiguram o enredo e marcam os protagonistas. Diga-se que esta é uma temática transversal a diversos filmes de Wim Wenders, pelo que a mesma não poderia faltar numa das suas obras maiores, tal como não falta a exímia utilização da paleta cromática e o aproveitamento notável dos cenários.

Este é também um filme sobre um rosto, nomeadamente, o de Harry Dean Stanton como Travis. De barba por fazer, chapéu encarnado, fato encardido, corpo coberto de poeira e um olhar vazio, ele aparece de forma misteriosa e silenciosa, com o ator a conseguir algo ao alcance de poucos: exprimir-se sem proferir uma palavra. Claro que Travis vai falar, mas inicialmente é um mistério silencioso que nos inquieta e irrequieta aqueles que o rodeiam. Quem é ele? É uma pergunta de resposta difícil, tal a complexidade do personagem e a bagagem emocional que este carrega no interior da sua alma.

O próprio demora algum tempo a reencontrar-se, embora o momento em que volta a ver Hunter (Hunter Carson), o seu filho, pareça fulcral para essa transformação. Ele parece inicialmente amnésico, embora, após uma longa viagem, exiba que o passado ainda está bem vivo dentro de si, qual vulcão que desperta de forma vagarosa. Como já foi mencionado, as viagens marcam e muito “Paris, Texas”. Primeiro é Walt (Dean Stockwell), o irmão de Travis que viaja para reencontrar o familiar. Posteriormente é Travis a viajar com Hunter, tendo em vista a reencontrar Jane (Nastassja Kinski), a ex-mulher do protagonista e mãe do petiz.

O primeiro reencontro com a ex-mulher serve para Travis ganhar coragem. O segundo reencontro entre ele e Jane, aquele em que esta percebe quem é o seu interlocutor, é apenas um dos momentos mais poderosos da História do Cinema. É algo simultaneamente melancólico, doloroso, cândido, cru, intenso, sensível e incapaz de gerar indiferença. Um espelho separa estes dois personagens, mas existe um passado intenso a reuni-los e uma miríade de palavras por dizer. A mágoa e a dor transformaram-se em algo distinto, nem sempre definível ou compreensível, com o momento em que Travis expõe a sua identidade e a forma como encarou os episódios do passado a trazerem toda uma dose de emoção e sensibilidade que mexem com Jane e o espectador.

O segundo reencontro entre Travis e Jane é um momento em que um ator e uma atriz transmitem uma imensidão de sentimentos e desfazem-nos emocionalmente. Os seus corpos fundem-se nas imagens, os sentimentos que nutrem um pelo outro reaparecem, bem como as recordações mais dolorosas. A palavra, o sentimento, os gestos, os olhares, a iluminação e o espelho que separa os personagens aparecem como elementos de relevo nesta situação mencionada, tal como as interpretações de Harry Dean Stanton e Nastassja Kinski. Depois dessa troca de confissões, diálogos e sentimentos, parece certo que a vida de ambos nunca mais será a mesma. Nem a nossa, que presenciámos alguns momentos brilhantes de cinema, dotados de delicadeza, poesia, por vezes alguma estranheza e uma enorme sensibilidade e humanidade. 

“Paris, Texas” é exibido a 22 de setembro, às 22h55, na RTP 2.

O primeiro destaque de sábado é dedicado a “Vale do Amor” (Valley of Love), um filme que reúne Gérard Depardieu e Isabelle Huppert, cerca de trinta anos depois de terem protagonizado “Loulou”. “Vale do Amor” desafia as nossas expectativas e as nossas crenças. A espaços testa a nossa paciência devido às suas redundâncias e à personalidade nem sempre agradável de Gérard (Depardieu) e Isabelle (Huppert), a dupla de protagonistas. No final, o filme desperta a estranha sensação de nos termos perdido pelo deserto do Death Valley (Vale da Morte), um local que tanto tem de inóspito como de desafiador, belo e monumental.

Gérard e Isabelle encontram-se separados há vários anos, reunindo-se neste espaço da Califórnia a pedido do falecido filho. Aos poucos, eles exibem as suas fragilidades, aquilo que os une e os separa, enquanto Guillaume Nicloux realiza uma obra onde o pragmatismo e o misticismo parecem andar lado a lado. “Vale do Amor” mantém durante um largo tempo as nossas dúvidas em relação ao possível regresso de Michael, o filho do casal mencionado, enquanto aborda temáticas como a perda de um ente querido, as relações sentimentais que falham, explora as dinâmicas assertivas de Gérard Depardieu e Isabelle Huppert, utiliza o espaço do deserto com alguma inspiração, com a dupla de protagonistas a ajudar e muito a elevar esta obra cinematográfica.

O nosso Duarte Mata concedeu quatro estrelas ao filme e salientou que é “Impossível falar deste filme sem falar dos seus atores, mestres na sua arte. Porque eles são o filme. E o filme é eles. Se é costume dizer-se que toda a ficção acaba por ser um documentário sobre os seus atores, talvez nunca tenha sido tão verdade como neste caso“.

“Vale do Amor” é exibido a 23 de setembro, às 12h00, no TVC2.

A segunda recomendação de sábado é “Batman”, um filme realizado por Tim Burton, que conta com a personalidade do cineasta em todos os seus poros. Esses traços do realizador são visíveis quer na excentricidade de Joker, quer no estilo gótico que o cineasta insere à cidade de Gotham (um espaço dominado pelo crime e a corrupção), ou ainda no tom negro da obra, entre outros exemplos. Estamos diante de um filme com personalidade e vida, que conta com um tom intemporal, uma atmosfera quase noir e uma capacidade notória para mesclar os elementos de fantasia com situações que encontram eco na realidade (a corrupção, a criminalidade, a insegurança), enquanto nos deixa diante do icónico anti-herói do título.

Batman é interpretado por Michael Keaton, um ator que insere carisma, humanidade e complexidade a Bruce Wayne (embora a sua escolha tenha provocado uma polémica intensa). O trabalho do elenco é digno de atenção, bem como o cuidado que Burton concedeu a desenvolver os personagens e as suas ligações. Além de Keaton, note-se o exemplo de Kim Basinger como Vicky Vale, uma fotógrafa que se deslocou a Gotham para descobrir mais informações sobre o misterioso Batman e acaba por se apaixonar por Bruce Wayne e ser alvo dos atos maníacos do Joker. Jack Nicholson imprime um estilo simultaneamente psicótico, violento, sádico e dotado de humor negro a este vilão, proporcionando alguns dos melhores momentos do filme. Veja-se o momento delirante em que ele e os seus capangas invadem um museu ou o encontro intenso do antagonista com Vicky e Bruce Wayne na casa da fotógrafa. 

O personagem interpretado por Jack Nicholson permite ainda expor de forma paradigmática o cuidado colocado quer no trabalho de caracterização, quer na seleção do guarda-roupa. De lábios pintados de vermelho (e um longo sorriso), cabelos verdes, roupas maioritariamente roxas, Joker conta com todo um visual e vestimentas que adensam o seu lado excêntrico, instável e ameaçador. É um antagonista de peso e respeito, que se encontra inserido numa obra cinematográfica dotada de emoção, ação, boa construção dos personagens, alguns salpicos de romance, um cuidado notório na elaboração dos cenários e no desenvolvimento das dinâmicas entre os diversos elementos do elenco, com Tim Burton a realizar um filme de super-heróis praticamente imaculado.

“Batman” é exibido a 23 de setembro, às 13h20, no TVC4.

Nesta sábado temos ainda a estreia de “Julieta” no TVC2, um filme realizado por Pedro Almodóvar. É um melodrama pontuado por uma estrutura narrativa relativamente episódica, cenários prontos a adensarem os estados de espírito dos personagens e boas interpretações por parte de Emma Suárez e Adriana Ugarte, com “Julieta” a abordar a procura da protagonista em exorcizar alguns dos seus fantasmas interiores, enquanto escreve um diário, ou um livro de memórias, onde expõe diversos episódios sobre o seu passado.

A depressão parece consumir o corpo e alma desta personagem que empresta o nome à vigésima longa-metragem realizada por Pedro Almodóvar, com Julieta a surgir como a protagonista, narradora e confidente do espectador. Conhecemos a sua faceta como mulher solteira, namorada, esposa, mãe, filha e amiga, com Emma Suárez (Julieta no presente) e Adriana Ugarte (Julieta no passado) a conseguirem expressar os diferentes estados de espírito desta personagem ao longo do tempo. Diga-se que o filme remete ainda para outros melodramas no feminino de Almodóvar, tais como “Volver”. Não falta a utilização bastante expressiva das cores (sobretudo o vermelho e o azul), os problemas familiares e os momentos a puxar ao melodrama, os cenários decorados de forma a exacerbarem a personalidade de alguns personagens.

O filme despertou opiniões díspares no interior do C7nema. André Gonçalves atribuiu quatro estrelas a “Julieta” e comentou: “Julieta é um objeto deveras estranho de decifrar ao primeiro visionamento. É de tal modo uma depuração deste dispositivo narrativo de trás para a frente, com uma carga simbólica tão forte que só é entendida em retrospetiva, que nos deixa imediatamente a querer rebobinar, com a certeza quase absoluta de que um segundo visionamento, contra as indicações de Pauline Kael, é neste caso obrigatório, e benéfico.” Já Hugo Gomes concedeu duas estrelas a “Julieta” e comentou de forma exaltada que “O pior é quando Pedro Almodóvar prefere fazer telenovelas estampadas em grandes telas, do que propriamente Cinema. O dramalhão trágico sem rigor e com um malabarismo escavacado. Um fracasso!

“Julieta” é exibido a 23 de setembro, às 22h00, no TVC2.

De salientar ainda a exibição de “A Comédia de Deus” na RTP 2, um filme que marca o regresso de João de Deus, o icónico personagem interpretado por João César Monteiro. Vencedor do Grande Prémio Especial do Júri da edição de 1995 do Festival de Veneza, “A Comédia de Deus” surge como mais um filme marcante de João César Monteiro e pode ser visto ou revisto a 23 de setembro, às 23h20, na RTP2.

O perigo que vem de fora é uma temática transversal a diversos filmes de ficção-científica das décadas de 50 e 60. O TV Cine e Séries confirma essa ideia ao transmitir a 23 de setembro “A Invasão dos Discos Voadores” (Earth vs. the Flying Saucers) e “O Dia em que a Terra Parou” (The Day the Earth Stood Still), duas obras cinematográficas que abordam esse assunto e formam uma double bill extremamente interessante. Se em “O Dia em que a Terra Parou” (realizado por Robert Wise), o extraterrestre Klaatu pretende expor o seu desagrado em relação à Humanidade, em particular, no que diz respeito ao uso das armas nucleares e à corrida ao armamento, já em “A Invasão dos Discos Voadores” (realizado por Fred F. Sears) temos uma raça alienígena que procura invadir e dominar o planeta Terra.

Tanto o enredo de “A Invasão dos Discos Voadores” como a história de “O Dia em que a Terra Parou” decorrem durante a Guerra Fria e contêm no seu interior os receios e paranoias inerentes a este período, embora estejamos diante de duas propostas distintas, mas igualmente recompensadoras. Comecemos então por abordar “A Invasão dos Discos Voadores”, uma obra exibida originalmente numa sessão dupla com “The Werewolf”. É um filme bastante simples, preciso e conciso nos seus propósitos: temos um grupo de extraterrestres que pretende invadir a Terra e um conjunto de seres humanos que procura fazer de tudo para salvar o planeta, enquanto o confronto entre ambas as partes é aguardado com expectativa (o título original já explica a premissa).

Os efeitos especiais de “A Invasão dos Discos Voadores” ficaram a cargo do mestre Ray Harryhausen, com a presença dos OVNIS a ser sentida ao longo do filme, bem como as mortes e a destruição provocada pelos extraterrestres. Diga-se que a “A Invasão dos Discos Voadores” exibe desde cedo essa ameaça que vem de fora, com o narrador a expor que diversos elementos avistaram discos voadores. Russell Marvin (Hugh Marlowe) e Carol (Joan Taylor), um casal recém-casado, deparam-se logo no início do filme com um deles. Ele é um cientista reputado, enquanto ela é a sua assistente. Os extraterrestres ainda chegam a contactar com Russell, a quem expõem os planos, nomeadamente, negociarem uma ocupação pacífica da Terra com os líderes mundiais, dentro de cinquenta e seis dias, em Washington, D.C., algo que conduz o protagonista a tentar criar uma arma para neutralizar o poder de fogo inimigo.

Acima de tudo estamos perante uma obra cinematográfica que pretende proporcionar algumas doses de entretenimento ao espectador, pontuada por efeitos em stop-motion em doses generosas, imagens recicladas (ou stock footage), alguma tensão, imensa destruição e interpretações competentes, sobretudo de Hugh Marlowe e Joan Taylor. Já Fred F. Sears exibe uma capacidade notória de expor tudo de forma concisa, enquanto explora os receios inerentes à ameaça que vem de fora, com o cineasta a brindar-nos ainda com alguns momentos que ficam na memória, em particular, o ataque extraterrestre que decorre no último terço do filme.

“A Invasão dos Discos Voadores” é exibido a 24 de Setembro, às 12h50, no TVC2. 

Se “A Invasão dos Discos Voadores” aposta imenso nos efeitos especiais e no “fogo de artifício”, já “O Dia em que a Terra Parou” coloca as suas fichas no desenvolvimento dos personagens e das temáticas que aborda. É um filme de ficção-científica bastante direto nas mensagens que pretende transmitir ao espectador, que representa paradigmaticamente o medo em relação à ameaça exterior nos EUA durante a Guerra Fria, bem como o receio proporcionado pelas armas nucleares, para além de expor o estado caótico da diplomacia internacional neste período histórico e apresentar uma mensagem anti-guerra. Essa ameaça e mensagem surgem expostas através de Klaatu (Michael Rennie), um extraterrestre cuja nave aterra na Terra, em particular nos EUA.

Klaatu pretende falar com os representantes de todas as nações tendo em vista a expressar o seu desagrado pelo facto de a Humanidade ter utilizado armas nucleares e continuar a investir na corrida ao armamento. A instituição interplanetária que Klaatu representa pretende tomar medidas drásticas se os humanos avançarem para novos ataques nucleares, algo que o protagonista pretende evitar. Pelo caminho, Klaatu assume temporariamente a identidade de “Mr.Carpenter” e forma amizade com Bobby (Billy Gray), uma criança que perdeu o pai durante a II Guerra Mundial, bem como com Helen Benson (Patricia Neal), a mãe do jovem, com as dinâmicas entre estes personagens a contribuírem para alguns dos melhores momentos do filme.

Michael Rennie incute um tom impassível a este extraterrestre que pretende travar a utilização das armas nucleares e impedir que a humanidade entre em conflito, com o ator a sobressair ao longo deste filme onde a ação e os efeitos especiais nunca se sobrepõem ao desenvolvimento dos personagens e das temáticas. Não temos um extraterrestre pronto a dominar a Terra ou a exaurir os seus recursos, mas sim um ser com aspeto humano, que pretende a paz universal, com “O Dia em que a Terra Parou” a surgir como um filme de ficção-científica dotado de relevância e conteúdo, que desafia as barreiras do tempo e tornou-se por direito próprio num clássico do género.

“O Dia em que a Terra Parou” é exibido a 24 de setembro, às 14h20, no TVC2.

Ao longo do dia 24 de setembro, o TVC2 exibe ainda mais alguns filmes de ficção-científica, ou que contam com ingredientes do género, nomeadamente “O Último Homem na Terra” (The Omega Man), “Fuga no Século 23” (Logan’s Run) e o muito recomendável “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange), mas, antes que o caro leitor comece a reclamar por estarmos a descurar as obras cinematográficas mais recentes, decidimos então efetuar duas propostas que estrearam mais recentemente nas salas de cinema.

O terceiro destaque deste domingo é “Deadpool”, um dos grandes sucessos de crítica e pública de 2016. Simultaneamente irreverente (qual é o anti-herói que guarda armas no interior de uma mala da Hello Kitty?) e convencional (é mais uma história de origem), “Deadpool” tanto utiliza as convenções dos filmes de super-heróis como ironiza e subverte as mesmas. Diga-se que o filme não tem problemas em ironizar com essas convenções, bem como com outras obras de super-heróis, algo latente quando encontramos o personagem do título a efetuar piadas sobre as linhas temporais da saga cinematográfica de “X-Men”, ou a satirizar “Green Lantern”, um dos grandes fracassos da carreira de Ryan Reynolds, ou a expor os problemas a nível de orçamento da obra cinematográfica realizada por Tim Miller.

Wade Wilson, mais conhecido como Deadpool, é um anti-herói falador, fã dos “Wham!”, extrovertido e violento, sempre pronto a fazer piadas e desenhos manhosos, a utilizar palavrões e a quebrar a quarta parede, com Ryan Reynolds a aproveitar este personagem peculiar para brilhar e expor o seu talento para a comédia. A interação entre ele e os que o rodeiam é essencial para o filme funcionar, com o mercenário a apresentar uma mente saudavelmente doente enquanto nos diverte imenso pelo caminho com as suas falas e gestos politicamente incorretos. Ah, pelo meio Deadpool tem de enfrentar Ajax (Ed Skrein) e os elementos ao serviço do antagonista, para além de tentar voltar a entrar em contacto com Vanessa (Morena Baccarin), o grande amor da sua vida.

Jorge Pereira atribui quatro estrelas ao filme e salienta que “Deadpool não se limita a derrubar a quarta parede neste spin off da franquia X-Men. Deadpool derruba tudo o que lhe aparece à frente. Esqueçam o tom mais sério da saga parente. Nada a ver. Deadpool faz parte desse mundo, mas está a léguas de distância“.

“Deadpool” é exibido a 24 de setembro, às 17h35, no TVC1.

A quarta proposta dominical é “Suburra”, uma obra cinematográfica realizada por Stefano Sollima, inspirada no livro homónimo de Carlo Bonini e Giancarlo De Cataldo. O enredo acompanha um período compreendido entre os dias cinco e doze de novembro de 2011, enumerados pelos intertítulos que anunciam a chegada do Apocalipse. Não é o fim do mundo que se aproxima, mas sim uma tempestade poderosa que se prepara para assolar o território italiano, com Sollima a mesclar factos com ficção, enquanto preenche a narrativa de episódios como a queda do Governo em Itália, a crise financeira deste país, a abdicação do Papa, entre outros momentos que marcam o enredo e o espectador.

A realidade apodera-se da ficção e vice-versa, com o cineasta a não ter problemas em explorar temáticas relacionadas com a corrupção política, festarolas berlusconianas, o envolvimento do crime organizado na tomada de decisões relevantes do foro governamental, o tráfico de droga e a violência na cidade de Roma. A chuva pontua diversos momentos da narrativa, exacerbando o tom estilizado deste filme eivado de elementos noir, com a noite a ser muitas das vezes testemunha de episódios negros, enquanto a atmosfera de malaise envolve “Suburra”, uma obra cinematográfica marcada por uma miríade de personagens que, na sua maioria, apresentam uma falta de valores morais indelével e uma procura voraz para sobreviverem num meio onde apenas os mais fortes se conseguem safar.

A violência, a corrupção, a imoralidade, os jogos de poder e os tentáculos da máfia apoderam-se de quase todos os poros da narrativa de “Suburra”, um filme-mosaico que já conta com crítica no C7nema. Hugo Gomes atribui-lhe três estrelas e comentou: “Sollima inicia com as leis básicas deste já formado cinema de crime, mas aos poucos a distorce transformando os respetivos lugares-comuns em inesperadas saídas que desafiam os conceitos de neo-noir. No seio destas reinvenções, temos, por exemplo, uma personagem de encher cenário (Greta Scarano) que vai gradualmente convertendo-se na peça chave de toda a teia concebida, a lâmina que corta a principal cabeça da hidra. Ao mesmo tempo é essa personagem que ligará este exemplar mob às suas raízes mais românticas de um Mario Puzzo, provavelmente induzindo o literal romance no esquema“.

“Suburra” é exibido a 24 de setembro, às 22h00, no TVC2. 

Por esta semana é tudo. Bom fim de semana e bons filmes. 

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