Quarta-feira, 24 Abril

Claude Lelouch marca reencontro com personagens do seu clássico dos anos 60

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Claude Lelouch marca um reencontro com os personagens do premiado Un homme et une femme (Um Homem e uma Mulherpt; Um Homem, uma Mulherbr) em novo filme: Les plues belles années d’une vie, em finalização

Existe um boato rondando os corredores da indústria do cinema francês acerca do regresso de uma uma love story mítica na abertura do 72º Festival de Cannes, que vai de 14 a 25 de maio, com o mexicano Alejando González Iñárritu na presidência do júri: estima-se que Claude Lelouch vá inaugurar o evento com um projeto inédito, que recria a sua obra-prima. Filme da vida de muitos cinéfilos desde 1966, quando conquistou a Palma de Ouro de Cannes e um par de Oscars, Um Homem e Uma Mulher tem uma continuação a caminho: “Les plus belles années d’une vie” vai marcar o reencontro de Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée uma vez mais sobre a direção do mestre Claude Lelouch, um dos realizadores de maior sucesso popular da França.

Já octogenário, mantendo uma média de trabalho de uma longa metragem nova a cada dois anos, Lelouch está a finalizar o drama com tintas românticas que narra o reencontro de Jean-Louis Duroc e Anne Gauthier, que viveram momentos idílicos em Deauville nos anos 1960. “Será uma celebração do viver, um ensaio sobre a resistência da vida na luta contra a morte, pelas vias do prazer e da alegria“, antecipou Lelouch em uma entrevista ao Le Monde, sem antecipar detalhes sobre a produção.

A maior peleja do cineasta foi convencer Trintignant a atuar de novo, uma vez que o ator, abatido por um cancro, decidiu se retirar dos ecrãs. Mas a chance de reviver uma das longas mais míticas da década de 1960 animou o ator. E é uma chance de se ouvir de novo a banda sonora de Francis Lai, com Pierre Barouh, Baden Powell e Vinicius de Moraes, que embalou gerações ao som da melodia “chabadabada“.

Nenhum crítico de cinema é mais implacável do que o Tempo: se você quiser saber se um filme transcende as convenções dos sucesso, basta verr se ele resiste, inteiro, vivo, no imaginário cinéfilo depois de décadas do seu lançamento. Aquela história que Anouk, Jean-Louis e eu contamos resistiu: passaram-se cinco décadas e ela está aí“, disse Lelouch ao C7nema, ao lançar Chacun as vie, o seu últimotrabalho, no início de 2018. “Em ‘Um homem, uma mulher’, em 1966, quando Anouk Aimée envia um telegrama para Jean-Louis Trintignant, durante o Rally de Monte Carlo, aquele gesto produz um momento mágico, de espera, de surpresa. Mas este momento parece impensável no cinema de hoje, em que a tecnologia apressa tudo, até a magia da tela“.


Chacun ça vie

Avesso ao legado intelectual da Nouvelle Vague, o movimento que renovou o cinema francês nos anos 1960, com Godard, Truffaut, Agnès Varda e Eric Rohmer, Lelouch vê o cinema como um espaço para o afeto e não para equações teóricas, contrariando o tom ensaístico e experimental dos seus colegas de juventude. Os seus filmes, a partir de Um homem, uma mulher, fizeram das vicissitudes do querer o seu objeto de estudo, vide Uns e Outros (1981) e A Nós Dois (1979). “Desde que comecei a filmar, o desejo que me movia era a vontade de fazer filmes que falassem aos corações dos espectadores, não aos cérebros deles. Estavamos num tempo em que a França queria ganhar o mundo com filmes que obedeciam a critérios políticos e não a desígnios da liberdade poética. Muitas pessoas tentaram intelectualizar ‘Um Homem, Uma Mulher’, assim que ele saiu, num esforço de dissecar possíveis aspetos narrativos que não faziam parte do meu olhar, do meu modo de fazer filmes. Muita gente ficou intrigada com o facto de eu alternar sequências em cor e sequências a preto e branco como se fosse uma questão estética. As pessoas não faziam ideia de que aquilo era apenas uma questão de orçamento: eu não tinha dinheiro para rodar tudo em cor, por isso usei película P&B em alguns trechos. Era o que tinha à mão. Quando se é autodidata, como eu, a escola é a vida. A lógica do cinema é a tentativa e o erro“, disse Lelouch ao C7nema, na projeção de seu clássico no Festival Varilux, no Rio, em 2016. “Eu sou um observador do mundo, aberto ao acaso. É daí que vem a minha fabulação“.

Em Les plus belles années d’une vie, Lelouch usa como mote a viuvez dos protagonistas do longa original, hoje ambos com cerca de 80 anos. Em luta para reconstruir suas vidas diante do peso da saudade, eles voltam a Deauville para um inusitado reencontro que passa em revista feridas e belezas do passado. Em 1986, o diretor já havia ensaiado um revival para a love story de Jean-Louis Duroc e Anne Gauthier, em “Um homem e uma mulher – 20 anos depois“. Mas, agora, o peso da idade é mais doloroso, tanto na ficção quanto na realidade de seus astros.

“Aquelas duas personagens são fruto de uma vivência dos meus 25, 26 anos. Os meus primeiros filmes não tinham funcionado e um deles, Les Grands Moments, não tinha encontrado distribuidor. Eu estava à beira da falência. Um dia, em desespero, peguei no carro e sai dirigindo à toa, até que cheguei a Deauville, em plena madrugada, e lá fiquei, sem saber como refazer a minha vida. Ao acordar, diante de um sol encantador, abri os olhos e avistei uma mulher que andava na praia, acompanhada de um menino e de um cão que se espreguiçava pelo caminho. A imagem era fantástica. A ideia do projeto Un Homme Et Une Femme nasceu naquele segundo. Corri para um bistrô e, durante duas horas, escrevi o filme. O futuro se abria para mim ali, apenas por estar de olhos abertos para a beleza da vida”, disse Lelouch. “Na segunda metade da década de 1960, parecia que aquele filme era uma necessidade para todos. Fazia falta a poesia. E ela ainda faz falta, por isso eu sigo filmando“.

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