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Morreu Sid Sheinberg, o homem que lançou Steven Spielberg

Morreu na passada quinta-feira, aos 84 anos, Sidney Sheinberg, advogado que liderou a MCA Inc. e a Universal Studios durante várias décadas. A sua morte foi anunciada no Instagram pelo filho, o produtor-diretor Jon Sheinberg. 

Nascido a 14 de janeiro de 1935 em Corpus Christi, Texas (EUA), este filho de imigrantes judeus estudou na Universidade de Direito de Columbia e seria professor na UCLA antes de entrar para o departamento legal da Revue Productions, antiga subsidiária da MCA Inc., antecessora da Universal Television. Começava assim a sua carreira na indústria do entretenimento.

Foi em 1968 que o falecido executivo deu o primeiro emprego a um dos nomes que o ajudariam a elevar a Universal no sistema de estúdios de Hollywood: Steven Spielberg.

Chuck Silver mostrou-lhe um road movie peculiar feito por um estudante universitário. “Essa foi a primeira vez que vi o Amblin“, disse Sheinberg ao THR em entrevista sobre a curta metragem que se tornou o cartão de visita de Spielberg e que mais tarde viria a dar o nome à sua primeira produtora.

Na época, foi agendada uma reunião e a Spielberg foi oferecido um contrato de sete anos com um salário de 300 dólares semanais. O primeiro trabalho do realizador para a empresa foi um episódio piloto de Night Gallery, protagonizado por Joan Crawford, mas seguiram-se colaborações em outros programas e três filmes feitos para a TV, incluindo Duel (Um Assassino Pelas Costas) em 1971. “Fiz essas curtas amadoras de 16 mm, tinha cabelos compridos e era um estudante que abandonou a faculdade no final dos anos 60“, contou Spielberg sobre esses tempos.

Em 1973, o presidente da MCA, Lew Wasserman, transformou Sheinberg no seu braço direito como presidente e COO, e Spielberg estava pronto para brilhar. O que se seguiu é o que sabemos: a Universal lançou os filmes de maior sucesso das últimas três décadas do século XX, incluindo Tubarão, E.T. e Parque Jurássico, mas também Regresso ao Futuro, projeto com o dedo de Spielberg e a assinatura de Robert Zemeckis.

Curiosamente, Sheinberg tinha outra ideia para o título do clássico protagonizado por Michael J. Fox. Num memorando, Sheinberg acreditava  – e tentou persuadir – Steven Spielberg a mudar o título do filme para Space Man From Pluto. Ele até sugeriu três edições nos diálogos que tornariam esse título numa das frases do filme, sendo uma delas na sequência em que Marty identificava-se como “Darth Vader do Planeta Vulcano“. 

A sugestão não foi levada em conta por Spielberg, mas o mesmo não se passou com Ridley Scott. O executivo foi responsável pelas mudanças substanciais feitas em A Lenda da Floresta (1985) no seu lançamento americano. Ele tentou uma tática similar com Brasil: O Outro Lado do Sonho (1985), mas Terry Gilliam não cedeu, gerando uma enorme batalha executiva/ riativa que foi lembrada num filme e num livro denominados The Battle of Brazil.

Em 1982, Thomas Keneally publicou o seu romance histórico Schindler’s Ark, que ele escreveu depois de um encontro casual com Leopold Pfefferberg em Los Angeles em 1980. Sheinberg enviou uma cópia a Spielberg, juntamente com uma crítica do New York Times, e deu luz verde à sua transposição para o cinema com a condição de que o cineasta fizesse Parque Jurássico primeiro. Ele sabia que, uma vez que eu fizesse A Lista de Schindler, não seria capaz de fazer Parque Jurássico“, disse Spielberg anos mais tarde em entrevista. 

Neste ano, Sheinberg foi citado a dizer: “É melhor começarem a economizar dinheiro para pagar os honorários dos seus advogados, eu vejo o litígio como um centro de lucro” durante uma reunião onde se pedia à Nintendo que pagasse à Universal royalties pela franquia Donkey Kong. Mais tarde, quando a Universal processou a Nintendo, esta citação usada em tribunal, pois a Nintendo venceu o caso e apurou-se que a Universal sabia que King Kong estava em domínio público há muito tempo.

Aquela que é considerada a maior conquista de Sheinberg aconteceu no início dos anos 90′, quando vendeu a MCA e a Universal a uma empresa japonesa, a Matsushita Electric, por 6,59 mil milhões de dólares em 1990. Ele ficou durante mais cinco anos no estúdio, assistindo à aquisição da empresa pela família Bronfman. 

Posteriormente, produziu várias longas-metragens através de sua própria produtora, The Bubble Factory, estando entre elas O Super-Melga (1997) e Um Desejo Tão Simples (1997).

Sheinberg teve também grande interferência na indústria da música, liderando a MCA Music Entertainment (mais tarde denominada Universal Music), intermediando a compra por parte do grupo da Motown Records em 1988 e da Geffen Records dois anos depois.

Casado desde 1956 com a atriz Lorraine Gary, Sheinberg tinha dois filhos.

 

Spielberg já reagiu às notícias do falecimento de Scheinberg num comunicado da Amblin Partners: “O meu coração está partido com esta notícia (…) Por enquanto, deixe-me dizer que Sid tinha uma grande personalidade e um coração terno.  (…) deu à luz a minha carreira e fez da Universal a minha casa. Deu-me Tubarão, eu dei ET e ele deu-me a Lista de Schindler. Formos uma equipa por 25 anos e ele era meu amigo há 50 anos. Não tenho nenhum conceito sobre como aceitar que o Sid se foi. Pelo resto da minha vida, devo a ele mais do que posso expressar.”