Quinta-feira, 28 Março

De anjo a demónio: morreu o ator Bruno Ganz (1941–2019)

Bruno Ganz tinha 77 anos e trabalhou com inúmeros cineastas como Wim Wenders, Éric Rohmer, Werner Herzog, Volker Schlöndorff e Lars Von Trier

 O suiço Bruno Ganz, conhecido pela sua participação em filmes de Wim Wenders como As Asas do Desejo (1987) e Tão Longe, Tão Perto (1993), bem como por ter sido Adolf Hitler em A Queda (2004), faleceu hoje em Zurique aos 77 anos. A causa da sua morte está ligada a um cancro do cólon.

O ator, que ainda recentemente vimos em The House That Jack Built – A Casa de Jack, de Lars Von Trier, começou a sua carreira no cinema na década de 1960 com Der Herr mit der schwarzen Melone. Até trabalhar com Éric Rohmer e Jeanne Moreau em 1976 (A Marquesa d’O; Lumiere) e com Wim Wenders em 1977 (O Amigo Americano), Ganz participou em inúmeros filmes para a TV.


O Amigo Americano

Em 1978 trabalhou com Peter Handke em A Mulher Canhota, foi obcecado por xadrês num telefilme de Wolfgang Peterson (Black and White Like Day and Night), e colaborou com Franklin J. Schaffner em Os Comandos da Morte (1978). Para o cineasta Werner Herzog e ao lado de Isabelle Adjani, foi Jonhatan Harker em Nosferatu, o Fantasma da Noite (1979); e participou no mesmo ano, ao lado de Isabelle Huppert e Jacques Dutronc, em Regresso à Bem-Amada

Na década de 1980, destaca-se a sua participação em A Provinciana de Claude Goretta, A Dama das Camélias (1981) de Mauro Bolognini (novamente com Huppert no elenco), Círculo de Mentira (1981) de Volker Schlöndorff, A Cidade Branca (1983) de Alan Turner (onde trabalhou com a portuguesa Teresa Madruga), e O Rio do Ouro (1986) de Jaime Chávarri. É em 1987 como o anjo Damiel em As Asas do Desejo que ganha mais atenção, repetindo o papel seis anos depois na sequela Tão Longe, Tão Perto (1993).


Asas do Desejo

Até chegar a esse filme de Wenders, ainda voltou a colaborar com Handke em A Ausência (1992), destacando-se ainda nesta década a sua colaboração com o grego Theo Angelopoulos em A Eternidade e Um Dia (1998).

Já no novo milénio, e depois de papéis em filmes como Pão e Tulipas (2000) e O Candidato da Verdade (2004), viria a tornar-se o centro de todas as atenções como Hitler no filme A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich. Não só o filme foi nomeado ao Oscar como se tornou um símbolo de uma nova abordagem à figura histórica, por muitos criticado por “humanizar” o líder dos nazis. Sobre isso, Ganz diria em entrevista: “O que as pessoas precisam é que Hitler represente o próprio mal. Mas o que é o mal em si? Isso não significa nada para mim. Eu tenho de interpretar um ser humano”.


A Queda

Na explosão da internet, Ganz e a sua interpretação de Hitler tornaram-se ainda verdadeiros centros de uma nova cultura pop na forma de memes e vídeos adulterados. Por toda a web multiplicaram-se vídeos em forma de paródia para as mais diversas finalidades a partir de imagens de Hitler a assumir a derrota e o fim do seu sonho autocrata.

Após esse papel, a sua carreira ganhou um novo fulgor, participando em filmes como Uma Segunda Juventude (2007), de Francis Ford Coppola, O Complexo Baader Meinhof (2008) de Uli Edel, A Poeira do Tempo (2008) de Theo Angelopoulos, e O Leitor (2008) de Stephen Daldry.


O Complexo Baader Meinhof

Na década de 2010, contam-se colaborações com atores como Liam Neeson em Sem Identidade (de Jaume Collet-Serra, em 2011), e uma passagem por Portugal para filmar Comboio Noturno Para Lisboa, de Bille August. 

A Vingança de Michael Kohlhaas (2013) de Arnaud des Pallières, O Conselheiro (2014) de Ridley Scott, e Amnésia de Barbet Schroeder contaram igualmente com a sua presença, bem como Heidi (2015), O Número (2015), A Festa (2017), e The House That Jack Built – A Casa de Jack (2018).


A Casa de Jack

Recentemente estreado nas nossas salas, Vingança Perfeita com Liam Neeson é um remake do filme norueguês Kraftidioten (2014), o qual contava com Ganz num papel extremamente carismático, como se pode ler na nossa crítica ao filme.

Vencedor de diversos prémios ao longo da sua carreira, como o honorário dos Prémios do Cinema Europeu em 2010, Ganz trabalhou recentemente no ainda inédito Radegung de Terrence Malick. Estava também prevista a sua colaboração no novo de Dominik Graf, Golem.

Para além do Cinema e TV, Ganz teve também uma forte carreira no teatro, participando em encenações a partir de trabalhos de Goethe (Fausto) e Harold Pinter. 

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