Terça-feira, 23 Abril

Berlinale: «Skin», a epiderme da intolerância

Embora não seja uma descoberta alemã, pois veio do Festival de Toronto, com a esperança de uma vaga no Oscar, Skin, do israelita Guy Nattiv (de Mabul) é o que se viu de mais possante, em critérios estéticos e éticos, em toda a Berlinale 2019, até agora. Está na seção Panorama e merecia sair de lá premiado. Que a Fipresci abra seus olhos para essa joia!

Nela, o eterno Billy Elliot, Jamie Bell, cada vez mais inspirado nas suas composições de tipos deslocados, tem uma atuação de embatucar peitos e mentes no papel de um supremacista branco. Tatuado dos pés à cabeça, ele é um poço de ódio que, ao se apaixonar por uma mãe solteira (a excecional Danielle Macdonald, de Patty Cake$), decide largar a célula neonazi onde cresceu e virar alguém avesso a intolerâncias raciais. Vera Farmiga interpreta a sua mãe adotiva, ostentando um visual borracho, e Bill Camp como o seu pai, o mentor dos arianos caçadores de imigrantes. Nattiv não dosa a mão ao retratar as cenas de violência a estrangeiros e a afrodescendentes que têm nos EUA um lar. Mas, ao mesmo tempo, empodera um militante antirracistas, Daryle Jenkins (Mike Colter), para ressaltar a importância dos ativistas negros na guerra à exclusão.

Inspirado por um documentário sobre Bryon Widner, ex-presidiário que ajudou o FBI a acabar com focos de brutalidade contra etnias variadas, a longa-metragem de Nattiv surpreende pelo modo no qual sua montagem, avessa a clichés, embaralha tempos narrativos distintos. É nítida, nas várias etapas da trajetória de redenção de Widner (Bell, luminoso), e a sua aversão aos crimes de seu clã. Há um desejo de reintegração latente nele, expresso ora com sutilezas, no seu amor por seu cão, ora com excessos. Mas é bom uma direção que não tem medo dos excessos, neste tempo em que o cinema autoral exige de si polidez em desmesura.

Nos seus arroubos de dor, o filme lembra a edição de Requiem for a Dream, de Darren Aronofsky, um mestra na arte de registra a descompostura. A interpretação de Bell é o que se viu de mais tocante aqui.

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