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“Cansei-me de ver como as mulheres são retratadas nos filmes”, diz Paul Feig (Um Pequeno Favor)

Numa entrevista ao The Independent, o realizador Paul Feig – cujo Um Pequeno Favor [1] chegou esta semana às nossas salas de cinema – afirmou que nunca procura personagens femininas fortes para os seus filmes, até porque não gosta desse termo: “É um termo bidimensional. Eu gosto de mulheres que são fortes e fracas e engraçadas e vulneráveis ​​e com medo“.

O realizador de filmes como Bridesmaids (2011) e Ghostbusters (2016) deu ainda a entender que as personagens “femininas fortes” só o são assim chamadas porque são extremamente multifacetadas, como as duas protagonistas de Um Pequeno Favor,  Stephanie, interpretada por Anna Kendrick, e Emily (Blake Lively). “Cansei-me de ver como as mulheres são retratadas nos filmes. São tão mal [retratadas], especialmente nas comédias. Basicamente, são adereços “, diz Feige.

Conhecido por comédias mais “frontais”, aqui esse género joga lado a lado com o mistério, como se estivessemos perante uma versão cómica de Gone Girl – Em Parte Incerta. Para o cineasta a mistura dos elementos faz todo o sentido: “É um género inerentemente absurdo (…) e há tantas voltas e mais voltas. Mas eu gosto que as pessoas riam. Quero sempre que o público sinta que podem se divertir. “

Ghostbusters

Feig ainda não digeriu completamente as críticas e os ataques que o filme sofreu mal foi anunciado. O diretor admite que eu não tinha percebido que tinha pisado “um ninho de vespas” repleto de veneno dos fanboys quando em 2016 assumiu o reboot da franquia e lançou quatro mulheres no protagonismo.

O trailer tornou-se num dos mais odiados da história do YouTube, repleto de comentários misóginos e racistas, muitos deles publicados a mando de Milo Yiannopolous, figura da ALT Right que foi (eventualmente) banido do Twitter. Tornou-se uma coisa política. Por isso que nós não tivemos resultados nas bilheteiras como deveríamos, porque é um filme divertido de verão” afirmou, acrescentando que a sua experiência nesse filme abriu-lhe os olhos. Para ele, essa não era a reação normal da comunidade nerd, mas de algo  mais sinistro que ele rotula como uma abordagem “Trump” de “destruír a todo custo, arruinar”.

O futuro?

A Feigco – empresa de produção do cineasta – está atualmente a ultimar os trabalhos de Someone Great, uma comédia romântica da Netflix escrita e dirigida por Jennifer Robinson e protagonizada por Gina Rodriguez (Jane the Virgin).

Feig também prepara a a Powderkeg, uma nova empresa de conteúdo digital especificamente criada para apoiar vozes pouco ouvidas, trabalhando atualmente em East of LaBrea, uma série para a web sobre a experiência muçulmana-americana. Para o realizador e produtor, fazer filmes é um negócio caro e os estúdios, acima de tudo, hesitam em arriscar em novas vozes. A Powderkeg, ele espera,  abrirá caminho entre as vozes menos ouvidas da sociedade e as grandes produções.  “Se não conseguirmos ampliar o espectro dando empregos às pessoas para que elas possam dar nas vistas aos olhos de um estúdio, nada vai mudar“, diz Feig.