Sexta-feira, 19 Abril

Jean-Louis Trintignant: quando a fadiga começa a ser mais intensa que a vontade de viver

Já o tinha dito em 2013 e voltou a afirmá-lo agora: o ator francês Jean-Louis Trintignant, cujo os últimos papéis no cinema foram Amor e Happy End, ambos de Michael Haneke, anunciou que se retirou do cinema, acrescentando que recusou recentemente o convite de Bruno Dumont para participar no seu próximo filme: “tive medo de já não estar à altura fisicamente“, disse o ator ao Nice Matin (Via El Pais), adiantando ainda que já nem sequer tem força para combater, aos 87 anos, o cancro na próstata com que foi diagnosticado.

Eu já não luto. Deixo as coisas acontecerem. Há um médico de Marselha que vai tentar uma coisa nova. Mas não faço quimioterapia, apesar de ter tudo preparado“, revela, dando a entender que a fadiga começa a ser mais intensa do que a vontade de viver: “Já não me movo sozinho, preciso sempre de alguém ao meu lado para me dizer: ‘tenha cuidado, há uma peça de mobiliário à sua frente, vai cair’ (…) Há um ano que não saio de casa (..) Não consigo ler, porque estou a ficar cego. Os livros sempre foram um grande prazer. Vejo televisão, ouço música, durmo muito. Fico no sofá, refletindo sobre as coisas boas e as más. Sem tédio, felizmente”.

Admitindo que está “morto há 15 anos, em referência à morte de sua filha Marie Trintignant, assassinada pelo namorado, aos 41 anos, o ator diz ainda que se define comoum grande pessimistae que esse é o seu grande drama:há pessoas que nascem otimistas, eu vejo sempre o copo meio vazio.


E Deus Criou a Mulher

Nascido em Piolenc, Vaucluse, a 11 de dezembro de 1930, Jean-Louis Trintignant teve o prazer de ter trabalhado com alguns dos cinestas europeus mais marcantes, como Roger Vadim (E Deus Criou a Mulher), Dino Risi (A Ultrapassagem), Costa-Gravas (Z- A Orgia do Poder), Claude Lelouch (Um Homem e Uma Mulher), Tinto Brass (Col cuore in gola), Sergio Corbucci (O Grande Silêncio), Eric Rohmer (A Minha Noite em Casa de Maud), Bernardo Bertolucci (O Conformista), Ettore Scola (O Terraço), François Truffaut (Finalmente, Domingo!), André Téchiné (Encontro), Krzysztof Kieslowski (Três Cores: Vermelho) e Jean-Pierre Jeunet (A Cidade das Crianças Perdidas).

Ao longo do seu percurso venceu diversos prémios, destacando-se o Cesar de Melhor Ator por Amor (2012), o Urso de Prata em Berlim por L’homme qui ment (1963) e o prémio de melhor interpretação em Cannes por Z – A Orgia do Poder (1969).

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