Quinta-feira, 28 Março

Samantha Geimer fala de Quentin Tarantino, Roman Polanski e Woody Allen

 

Numa entrevista à Indiewire, Samantha Geimer, a mulher que em 1977 foi violada por Roman Polanski quando tinha apenas 13 anos de idade, contou como foi o pedido de desculpas que Quentin Tarantino lhe fez por telefone, isto logo após ter ressurgido na internet uma gravação do realizador no programa de Howard Stern, em 2003, onde defendia o cineasta franco-polaco, afirmando que tecnicamente não tinha acontecido uma violação e que a mulher na altura “queria” Polanski.

Geimer começou por dizer que nunca teve a intenção de enxovalhar Tarantino, mas apenas dizer que esperava que a opinião dele tivesse mudado ao longo destes quinze anos com o conhecimento dos factos que relatou no seu livro publicado em 2014. “Ele sentiu-se mal por ter dito aquilo (…) Penso que as desculpas ajudam a pessoa que foi injustiçada e a pessoa que as pede. Muitas vezes digo que não preciso delas [dos pedidos de desculpa], mas, na verdade, elas têm sempre um impacto positivo.”

Reconhecendo que aproveitou o telefonema de Tarantino para falar de True Romance, o seu filme preferido, que agora terá de rever com a mãe, e do próximo filme do cineasta [que se passa no ano da morte de Sharon Tate], Geimer afirmou que tanto ele como Polanski estão sob muito mais escrutínio” do que ela: “Se não fosse a fama do Roman e do Quentin, ninguém estaria a falar comigo sobre isto, por isso as suas palavras, ações e até mesmo desculpas serão sempre glorificadas e criticadas. A fama amplia tudo.”

Exemplificando, numa outra parte da entrevista, a mulher disse que apesar de ver a importância do #MeToo, está triste de ver o movimento a “ser reduzido a uma ferramenta para prejudicar celebridades e políticos”. “As mulheres merecem mais do que isso e devemos nos levantar e exigir mudanças reais, não manchetes picantes”.

Quando questionada pelo repórter a falar sobre Polanski e o pedido de desculpas que ele lhe fez, Geimer disse que durante toda a sua vida sentiu que o cineasta estava arrependido e com remorsos desde o primeiro momento em que foi detido. Mas se para ela o pedido de desculpas que ele lhe fez através de uma carta escrita à mão não lhe fez grande diferença [apesar de o considerar um genuíno pedido de desculpas], para a sua família a história foi diferente: “fez uma grande diferença para minha a mãe, para o meu marido, para alguns dos meus amigos e para os meus filhos. Deu à minha mãe algum tipo de paz. Foi realmente algo significativo para as pessoas à minha volta (…) Qualquer coisa que possa fazer com que a minha mãe se sinta melhor é algo que agradeço.

Geimer defende ainda que não acha que alguém que tenha cometido um crime deva ser proibido para sempre de ter um emprego remunerado ou de criar arte: “Isso é  estúpido. Nós somos todos livres para tomar decisões próprias sobre o que vemos e compramos, não precisamos dos outros que forçam o que eles chamam de moral para dentro da nossa goela com exigências“.

Sobre esse tema, e já com o nome Woody Allen na conversa, Geimer diz que é mais importante a justiça funcionar e a presunção de inocência, que qualquer crime: “Não é justo tentar algo no tribunal da opinião pública. Não é justo exigir a crença das pessoas ou pedir-lhes para odiar, envergonhar e vilipendiar os outros. Às vezes, não conseguimos ter justiça, às vezes não a queremos. Implicar que a sua recuperação está nas mãos de estranhos, que devem agir em seu nome, é muito prejudicial. Todos nós podemos recuperar e curar, independentemente das circunstâncias, e isso vem de dentro. É importante ouvir todos. Veredictos e consequências não aparecem na capa de um tabloide.

Notícias