Quinta-feira, 28 Março

Tarantino fala do acidente de Uma Thurman: “É um dos maiores arrependimentos da minha vida”

Numa extensa entrevista à Deadline, o realizador Quentin Tarantino comentou as afirmações reproduzidas no passado fim de semana, num artigo do New York Times, nas quais Uma Thurman contou como nas filmagens de Kill Bill sofreu um acidente, isto após ter sido pressionada pelo realizador a executar uma cena para a qual não se sentia confortável, nem estava preparada.

Antes de mais, Tarantino disse que sabia que o artigo do NYT seria publicado e que há muito tempo que ele e Thurman falavam do assunto, especialmente depois de terem sido encontradas as filmagens do acidente que a atriz sofreu. O dia da descoberta dessas imagens é descrito por Tarantino como um dos mais felizes da sua vida: “Foi o Shannon McIntosh que encontrou. Nem queria acreditar. Não pensei que seríamos capazes de encontrá-las (…) Fiquei muito feliz por conseguirmos [as filmagens] para a Uma”. 

Reconhecendo que o pedido que fez a Thurman foi uma das coisas que mais se arrependeu na sua carreira e na sua vida, Tarantino afasta o cenário de qualquer tipo de agressividade no pedido à atriz para desempenhar a cena, até porque – segundo ele – “Quem conhece a Uma, sabe que entrar na sua caravana a gritar para ela fazer algo, não é a maneira” de conseguir que ela faça realmente isso. O cineasta diz ainda que “não poderia ter respeitado mais Uma Thurman durante a realização do filme. Trabalhamos mais de um ano. Tivemos três meses de treino juntos“.

Tarantino explica que a cena em questão nunca esteve programada para ser feita com um duplo, que Thurman tinha carta de condução – apesar de não se sentir confortável em guiar – e que fez o mesmo percurso na estrada do acidente (no sentido inverso) sem qualquer problema. “Era uma estrada reta“, diz, acrescentando, porém, que havia uma pequena curva (no sentido que Thurman conduziu) que poderia ter provocado uma “ilusão óptica” e consequentemente o acidente.

Quando confrontado sobre como reagiu quando o desastre ocorreu, Tarantino descreveu o momento como “horrível“: “Lembrar-me de lhe dizer que era seguro e que ela conseguia. O sublinhar que era uma estrada reta, e literalmente depois ver esta pequena curva surgir (…) foi de partir o coração. Para além de ser um dos maiores arrependimentos da minha vida, foi também um dos maiores da minha vida. Por inúmeras razões (…) Afetou a minha relação com a Uma [Thurman] durante dois ou três anos. Não era como se não falássemos, mas a confiança foi destruída. Criámos confiança ao longo de um ano de filmagens (…) fazendo coisas muito difíceis (…) e ela nunca se aleijou (…) e depois vieram os últimos quatro dias [das filmagens], e aquilo que pensávamos que seria apenas uma cena de condução, quase a matou (…) Quando começas a analisar sobre estas coisas. Quando uma encenação dá errado, sabes no que te estás a meter. A estrada tinha mais areia e menos lixo do que realmente antecipamos. Mudamos o sentido [em que ela ia conduzir]. Essa foi uma má ideia. Fazer isso sem verificar [o perigo]. Acho que, em última instância, foi a razão pela qual teve o acidente.”.

Já sobre as alegadas cenas durante as filmagens em que Tarantino cuspiu na cara da atriz e colocou uma corrente à volta do seu pescoço, Tarantino explica as situações com a execução de cenas diretamente ligadas ao filme. O cineasta diz ainda que em nenhum ponto do artigo do New York Times, esses relatos vieram diretamente de Thurman, mas sim de outras pessoas presentes nas filmagens.

O cuspo “era uma cena [com Michael Madson e Thurman] em que alguém cuspia na cara de outra“: “Eu expliquei a cena. Quem mais ia fazer? […] Eu não confiei isso ao Michael Madsen, porque não sabia onde o cuspo ia parar (…) Eu disse à Uma. Acho que preciso fazer isso. Só faço isto duas vezes, no máximo, três vezes.” 

Sobre as correntes e a asfixia que alegadamente fez à atriz, Tarantino diz que a situação estava ligada à cena em que Gogo [Chiaki Kuryama] atira a sua bola na noiva e a corrente envolve o pescoço dela. “Francamente, não tinha certeza de como íamos gravar aquela cena“, diz, dando a entender que não havia qualquer tratamento desumano no set, mas apenas trabalho entre ele e Thurman. Tarantino prosseguiu a analisar outras situações, como a sua confrontação a Harvey Weinstein, voltado a usar o caso de Mira Sorvino – na altura sua namorada – como exemplo.

Quando questionado se já estava tudo bem agora entre ele e Thurman, Tarantino responde: “Estamos bem. A Uma estava preocupada com a onda de críticas contra mim durante este fim de semana. Ela culpa-me por eu não ter falado com a Maureen Dowd [jornalista do New York Times]. Ela nunca quis que tudo isto caísse em cima de mim”.

Recorde-se que ontem, Thurman publicou no Instagram uma mensagem onde descupabilizava Tarantino, atacando sim a tentativa de encobrimento do caso perpetrado por Lawrence Bender, E. Bennett Walsh, e o famoso Harvey Weinstein.

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