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Acusado de abuso sexual, Harvey Weinstein afasta-se do seu estúdio


Estavamos em outubro de 2015 quando em declarações à Variety, no âmbito de uma edição especial dedicada às mulheres e ao seu papel e poder na indústria do cinema, a atriz Ashley Judd confessou que, quando estava a filmar Beijos Que Matam para a Paramount Pictures em 1997, foi assediada sexualmente «por um dos mais famosos e admirados chefes de um estúdio rival», acrescentando que foi chamada ao quarto desse homem sob o pretexto de falar sobre papéis em alguns dos filmes que este iria produzir. Na época, a atriz recusou revelar o nome do poderoso chefe de Hollywood, mas dois anos depois veio a público via o New York Times (NYT) que ele era Harvey Weinstein.

O artigo do jornal norte-americano divulga ainda outras mulheres que foram assediadas por Harvey, detalhando novamente a situação de Judd, a qual escalou ao ponto do magnata tentar fazer com que a atriz o visse a tomar um duche. Quando esta saiu do quarto de hotel, segundo Judd, «nunca mais lhe foi proposto outro trabalho» por parte desse estúdio, tendo posteriormente tido conhecimento de outras atrizes igualmente assediadas pelo mesmo homem. O NYT afirma [1] ainda que Weinstein fez pelo menos oito acordos extra-judiciais com mulheres nas últimas três décadas, incluindo com a atriz Rose McGowan, a qual não quis comentar essa afirmação à Vanity Fair [2].


Ashley Judd

O caso está a abanar a indústria cinematográfica norte-americana, com implicações naturais na empresa que Harvey comanda com o seu irmão Bob Weinstein, a Weinstein Company, que segundo a imprensa norte-americana se encontra numa situação extremamente delicada. Ciente desse impacto, o próprio magnata já veio a público afirmar que vai tirar uma licença sem vencimento. Porém, isso não será suficiente, até porque as repercursões do caso estão a afetar todos os quadrantes. Financiador de dois potenciais candidatos ao Partido Democrata, Cory Booker e Elizabeth Warren, Harvey tem visto aos «amigos» distanciarem-se dele, doando mesmo as suas contribuições para instituições de caridade.

E apesar da pressão e das acusações, Harvey é um estratega do marketing, contratando o advogado Charles Harder – conhecido por representar Hulk Hogan no caso que acabou por fechar o site Gawker – para processar o New York Times pelo artigo: «A razão pela qual eu estou a processar é por causa da incapacidade do NYT em ser honesto comigo, com os seus artigos imprudentes», disse Harvey à Page Six, negando as acusações de Judd e acrescentando que o jornal e o seu editor executivo, Dean Baquet, têm um rancor pessoal contra ele.

Harvey reconhece sim num comunicado em resposta ao artigo do NYT [3] que «tem de mudar, tem de crescer, lidar com minha personalidade, e trabalhar o meu temperamento», não excluindo que se comportou de forma errada com algumas mulheres: «Eu respeito todas as mulheres e arrependo-me do que aconteceu», não especificando nestas declarações os casos em que realmente se comportou de forma errada. O magnata afirma ainda que quer uma segunda oportunidade, mas que vai ter de trabalhar para a receber, passando agora a dedicar-se exclusivamente à luta contra a National Rifle Association.