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Morreu António de Macedo, o “mestre do cinema de género português”

Realizador e argumentista, Antonio Macedo, faleceu esta tarde (5/10), após ter dado entrada no Hospital de Santa Marta, em Lisboa. Tinha 86 anos e era tido como um dos nomes mais resistentes do cinema de género português, porém, a sua carreira é hoje alvo de reavaliação.

Com formação em arquitetura, Macedo dedicou-se ao cinema e à literatura, tendo assinado uma das primeiras obras teóricas sobre cinema editadas em Portugal: A Evolução Estética do Cinema.

Cofundador do Centro Português de Cinema e Cinequanon, Macedo lançou o seu primeiro trabalho em 1961, o experimental A Primeira Mensagem, e em 1965 lançou a sua primeira longa metragem, Domingo à tarde, considerada uma das fundadoras do Cinema Novo, juntamente com Belarmino de Fernando Lopes e Verdes Anos de Paulo Rocha, todos eles produzidos por António da Cunha Telles. 

Ao longo dos anos tornou-se o único cineasta nacional a trabalhar no cinema de género, com filmes como Sete Balas para Selma (1967), um ensaio de espionagem à portuguesa condenado pela crítica e pelo público. Como tal segue para o documentário, fase que foi interrompida pelo Nojo dos Cães, filme censurado e de caracter experimental em 1970. As más críticas voltaram a surgir com A Promessa (1972), onde baseado numa peça de Bernardo Santareno produz uma variação do western com encantamentos ciganos (primeira obra portuguesa a mostrar dois corpos nus) que acabou por integrar a competição do Festival de Cannes. Quatro anos depois surge o seu filme mais polémico, A Hora de Maria (1976), uma obra anti-religiosa onde teve de lidar com protestos da Igreja Católica e que ficou marcada por inúmeros desacatos durante a sua exibição no Cinema Nimas, em Lisboa.

Nos anos 80 entra pelo reino do cinema fantástico, com O Abismo da Meia-Noite (1984) [com nova polémica devido à breve nudez de Helena Isabel e Rui Mendes] e Os Emissários de Khalon (1988) a darem cartas, todos eles apresentados no Fantasporto em competição, tendo o próprio Macedo sido um dos primeiros júris do festival nortenho. Seguiram-se as fantasias lusitanas, A Maldição Marialva (1991), e o mistério de Chá Forte com Limão (1993). Todas estas obras foram envolvidas em más críticas e a fracassos de bilheteira (com a exceção de Os Abismos’ que contou algum burburinho devido às suas cenas de nudez).

O Segredo das Pedras Vivas (2016), que inicialmente fora uma produção televisiva dos anos 90 [O Altar dos Holocaustos], foi reconstruído como uma longa-metragem. A primeira exibição aconteceu numa edição do MOTELx, o Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que tem apresentado homenagens ao realizador, tendo sido – juntamente com o Fantasporto (o qual lhe atribiu o prémio de carreira em 2003) e Doclisboa – responsável pela nova vaga de reavaliação da obra de Macedo.

Ainda este ano estreará Nos Interstícios da Realidade, um documentário de João Monteiro que segue de perto a sua vida e carreira, assim como a “conspiração” que contribuiu para o seu esquecimento e da extensa censura do qual foi alvo. O cinema de António de Macedo vai está desde ontem  em retrospetiva no SITGES – Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, Espanha, estando prevista a exibição do documentário.