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Amr Salama explica as motivações para contar o outro lado da história de «Sniper Americano»

Há uns meses atrás ficamos a saber que estava a ser desenvolvido um projeto sobre o sniper iraquiano que era o grande antagonista de Chris Kyle, a personagem interpretada por Bradley Cooper no filme de Clint Eastwood, Sniper Americano [1].

Com a realização do realizador egipcio Amr Salama, esta produção – que ainda se encontra na fase de encontrar financiamento – não será um «anti-Sniper Americano», como disse o cineasta à Variety, mas sim um trabalho que vai «humanizar» Mustafa, o insurgente iraquiano, tratado no livro [autobiografia de Kyle] e no filme como «um selvagem»:«É um filme sobre o dilema sobre o que constitui o terrorismo. Quem é um lutador pela liberdade e quem é a vítima? É também sobre pontes entre diferentes culturas e de ver o que está por trás do que se vê nas notícias. Em outras palavras, é um filme anti-guerra, pró-humanidade.»

Quando questionado o que tinha achado do filme de 2014, Salama referiu que Clint Eastwood era dos seus diretores favoritos e o que mais respeitava na sua carreira foi quando criou Cartas de Iwo Jima (2007) e Flags of Our Fathers – As Bandeiras dos Nossos Pais (2006) para contar a história [Segunda Guerra Mundial] das diferentes perspetivas [japonesas e americanas]: «Eu esperava que isso também fosse o caso [em ‘Sniper Americano‘) com os árabes. Claro, ele não precisa fazer duas versões de cada filme que faz. Mas neste caso, onde temos uma guerra muito controversa e o evento político mais polémico deste novo século, pensei que [a história] merecia outro ângulo.»

O egipcio referiu ainda que na verdade, o filme era mais politicamente correto do que o livro: «O livro era sobre esses ‘selvagens’ que ele estava a matar no Iraque. Pensei que queria responder a isso, porque tenho certeza de que quase todos [aqueles ‘selvagens’] têm um filho que os ama e uma esposa que quer que ele viva. Pensei: ‘Quero dar um olhar humano a essas pessoas’».

Vale a pena referir que Salama é conhecido por filmes de alguma forma controversos, como Asmaa (2011), sobre uma mulher egípcia que lutava com o estigma social de ser HIV-positiva; Excuse My French (2014), sobre um cristão inscrito numa escola pública islâmica que se vê forçado a ocultar a sua identidade religiosa; e Sheikh Jackson (2017), o seu mais recente projeto, sobre um clérigo muçulmano conservador atormentado pelo fascínio por Michael Jackson.