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Cannes: abertura fria com fantasmas de Almaric

Muitos especulam uma impressionante qualidade na Seleção Oficial, mas por enquanto ficamos com uma abertura fria, onde no final da sessão para a imprensa um aplauso ou até um apupo foram inexistentes. Arnaud Desplechin é um dos favoritos da Riviera, não fosse o facto de Cannes não ser apenas um Festival do Mundo, mas um festival de grandes apostas francesas, e à imagem do que aconteceu em 2015, seguiu-se assim a opção de abrir o Certame com um compatriota.

O filme escolhido para tal feito foi Les Fantômes d’ Ismael, porém, de assombroso nada tem. Contando com um elenco reconhecido das produções francesas – Mathieu Almaric, Marion Cottilard, Charlotte Gainsbourg, Louis Garrel e Alba Rohrwacher, esta é a história de um realizador decadente, Ismael (Almaric), no lado afetivo, assumidamente viúvo, que começa uma inesperada relação com Sylvia (Gainsbourg). Esta cumplicidade começa a gerar frutos e Ismael torna-se mais produtivo e criativo no seu trabalho. Certo dia, a sua “falecida” mulher surge passados 21 anos, com as promessas de um regresso, uma visita que levará o nosso protagonista a um turbilhão de emoções.

Desplechin cria um filme sob vários tons; temos a nosso dispor rastos policiais, comédia, romance, drama e um ocasional artificialismo que faz antever um realizador pronto a proclamar-se como autor. Mas nada destas alterações “de espírito” parecem desaguar, e a obra resulta num distorcido ensaio de géneros, sem a devida convicção do seu feito. Ou talvez uma imensa e supérflua convicção. Desplechin cita Pollock e é sua intenção o fazer um filme sob os efeitos desses esquemas de cores, dessas experiências, dessas divergências que cooperam em prol de um único objetivo, a criação de uma obra. Mas o registo falha, nada cola  por aqui.

Voltando ao primeiro ponto, foi a indiferença que marcou esta sessão, onde nenhuma reação, nenhum descontentamento, indignação, aprovação, ou sorriso são de destacar. E no Croisette isso não é claramente um bom sinal!