Quarta-feira, 24 Abril

Berlinale: A invasão lusitana em pequenas doses

O mínimo que há a dizer destas 4 curtas-metragens na seleção competitiva, é que nenhuma delas se assemelha aos seus pares, tendo cada uma as suas idiossincrasias e formas particulares de contar uma história.


Altas Cidades de Ossadas

Altas Cidades de Ossadas é o regresso de João Salaviza ao formato de curta-metragem após o muito valorizável Montanha. Desta vez, a abordagem que toma está mais perto do cinema etnográfico de Pedro Costa. O filme segue, aliás, o rapper Karlon, habitante da antiga Pedreira dos Húngaros e que poderia bem ser um dos “filhos” de Ventura, o protagonista de Juventude em Marcha e Cavalo Dinheiro. O trabalho de luz na construção de cada cena, a prevalência de planos fixos com as personagens enquadradas de forma pouco usual e concentração da ação, na sua essência, durante a noite, tornam este trabalho numa sentida carta de amor de um cineasta em ascensão para um mestre da arte cinematográfica.


Cidade Pequena

Cidade Pequena de Diogo Costa Amarante é uma experiência curiosa, registada em formato anamórfico, em torno de um rapaz chamado Frederico e das descobertas que faz à sua volta. Um trabalho onde há um certo cuidado com a composição de planos simétrica, onde corpos são deitados de maneira a ocupar a margem do plano à outra, ou então figuras que, apesar de estarem imobilizadas, parecem extraordinariamente distantes. É pelo estilo visual que Amarante consegue definir esta visão do mundo pelos olhos de uma criança.

Coup de Grace dá preferência a planos gerais e é num registo essencialmente metafórico que fala de uma viagem surreal de um pai e uma filha que começa num campo de escavação e termina em Acapulco. Trata-se de um trabalho vivo e criativo em termos visuais cuja apreciação recai mais num aspeto sensorial que intelectualizável.


Coup de Grace

Os Humores Artificiais é uma pequena história de amor entre uma indígena brasileira e Andy Coughman (trocadilho com o célebre comediante Andy Kaufman e para o final perceber-se-á o porquê da referência), uma cabeça flutuante robótica. A mais “narrativa” e imaginativa (concetualmente falando) das curtas-metragens, que discute temas de origem sociológica, política e antropológica, poderá bem atrair investidores interessados em alargar para um formato de longa-metragem.


Os Humores Artificiais

Todas as curtas-metragens são apreciáveis e de elevada qualidade e, por ocuparem um quinto da secção competitiva das curtas, é possível especular que, pelo menos, uma delas será galardoada com um dos 4 prémios a serem atribuídos amanhã (Urso de Ouro, Urso de Prata, Audi Short Film Award e Berlin Short Film Nominee for the European Film Award), pelas 18h (hora de Portugal). Veremos o que sairá daqui.

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