Quinta-feira, 28 Março

Berlinale: Pandora Cunha Telles diz que “corrupção no Brasil é herança portuguesa”

A coprodutora do filme Joaquim, exibido em competição hoje no Festival de Berlim, não teve meias-palavras na conferência de imprensa do filme – afirmando que nas escolas lusitanas “ensinam-se às crianças mentiras perigosas“.

Quando questionada por um jornalista português sobre o enfoque da história do mártir independentista brasileiro Tiradentes, onde o processo colonial é apontado como o fator dos problemas de corrupção hoje existentes no país, ela disse: “Esse filme toca numa ferida que nós tentamos ocultar, dizer que não existe – primeiro no nosso papel no tráfico de pessoas escravizadas, depois na corrupção. Por isso questionar se isso é uma herança de Portugal… É, isto é uma herança! Não vale a pena pôr areia e dizer que isso não é um facto“. “Além disto“, continuou, “nós temos que questionar bastante o papel de Portugal no que nós chamamos inocentemente de comércio triangular e o nosso papel em África e no Brasil“.

Sobre a receção que o projeto possa ter no seu país, a diretora da Ukbar observou que “espera que o filme seja polémico o suficiente para se deixar de dizer nas escolas que ‘nós não fomos uma potência colonialista nem escravista‘ e temos de deixar de ensinar em Portugal para as crianças de seis e dez anos que ‘nós fomos apenas um povo que pôs outros em contato‘, o que é uma mentira extremamente perigosa”.

Por fim, dados os eventos atuais do mundo é preciso estudar a nossa história e esse filme faz um pouco isso, ou seja, lembrar-nos de outros momentos da nossa história onde não tivemos as atitudes mais corretas“.

Outras polémicas

Pandora Telles fez também um comentário a propósito dos protestos que têm marcado o cinema português em relação aos júris do ICA. “Eu não concordo que isso deva ser trazido para o público internacional. Filmes maravilhosos, como este ‘Joaquim’, têm sido feitos dentro deste sistema que, no entanto, tem que ser melhorado“.

Joaquim concorre ao Urso de Ouro e conta uma história livremente criada sobre o mito que viveu no século XVIII e terminou enforcado por traição pela Coroa Portuguesa.

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