Sexta-feira, 29 Março

Mulher violada por Roman Polanski afirma que não tem razões para odiá-lo

Samantha Geimer, alegadamente violada pelo realizador Roman Polanski quando tinha apenas 13 anos, em 1977, afirmou numa entrevista a revista alemã Der Spiegel que é inteiramente injusto que o cineasta tenha estado sob prisão domiciliaria e que não tem razões para odiá-lo.

Agora com 50 anos, Geimer lançou um livro com a sua versão dos acontecimentos, The Girl. A Life in the Shadow of Roman Polanski. Esta postura de Geimer tem gerado a ira das feministas, às quais responde: “Elas queriam que eu fizesse o papel de vítima, o que serviria melhor aos seus interesses“.

Numa postura encarada por muitos como tão corajosa, na medida em que evita uma vitimização moralista que lhe seria mais favorável, quanto polémica, Geimer afirma ainda que os verdadeiros destruidores da sua vida foram as autoridades e os media, que exploraram o seu caso até à exaustão. Segundo relembra, a situação ficou inteiramente resolvida no mesmo ano em que tudo aconteceu e até mesmo a prisão do cineasta nos Estados Unidos ocorreu indevidamente. “Ele só foi preso porque o juiz temeu ter a sua reputação manchada por libertar um pedófilo“, afirmou. Anos depois, a família retirou todas as acusações e declarou o caso encerrado. E vai mais longe: “Na época ele foi preso por um juiz narcisista. Atualmente foi por outro que queria chegar a juiz principal da Califórnia“.

A agora escritora também reforçou com pormenores a versão que contou ao juiz na altura e que foi contestada por Polanski, que apenas admitiu ter tido relações com ela. Conforme conta, tudo ocorreu quando posava para ele numa sessão de fotos para a revista Vogue na casa de Jack Nicholson, que não estava presente. Depois de pedir para tirar fotos em topless, o então fotógrafo deu-lhe champanhe e quaaludes (um calmante) que a deixaram tonta – levando-a depois para um quarto onde o ato foi consumado. Geimer disse que tentou impedi-lo, mas que acabou por desistir, que queria que tudo acabasse para ir para casa. Ousadamente conta ainda que já tinha perdido a virgindade com o ex-namorado e sabia o que era sexo.

Mergulho no abismo

Ainda na entrevista, Geimer minimizou o trauma que a situação lhe teria causado na altura, pois não cresceu num ambiente sexualmente opressor. Por outro lado, estava chocada com o ocorrido e chamou o ex-namorado para desabafar. Quem ouviu tudo indevidamente foi a irmã, que foi contar à mãe. “E foi então que o inferno começou: a polícia, o hospital, os advogados, Polanski sendo preso, os paparazzi, os telefones que não paravam de tocar“.

Embora entenda perfeitamente que a mãe tenha chamado a polícia, algo que faria na mesma situação, Geimer tem dificuldades em chamar o que ocorreu de violação. “Eu não queria e tentei dizer que não. Isto torna aquilo numa violação. Mas se eu pensei que era isso na altura? Não, para mim isso envolvia violência física ou sequestro. Mas então eu estou na minha casa e toda a gente começa a gritar ‘tu tens 13 anos, isto é uma violação!’. Eu fiquei bastante surpresa.” Já Polanski, descontraidamente, depois do episódio seguiu para a casa de outro ator famoso, Robert de Niro. “Ele nunca pensou que tivesse feito algo errado. Andar com menores na altura era relativamente normal. Não existia o conceito de abuso infantil“, explicou.

Para piorar, Angelica Huston, namorada de Nicholson na altura, também acabou por ser presa por terem, durante investigações na casa do ator, encontrado cocaína na sua mala. E Nicholson, obviamente, não estava nada contente com tudo aquilo acontecer na sua casa. «Eu sabia que nada daquilo era por minha culpa, mas sentia-me terrível“. Após isso, Geimer passou para uma péssima fase de isolamento e, posteriormente, entregue ao consumo abusivo de álcool e drogas.

Porém, e volta a reforçar na entrevista, tudo isso era causado pela pressão dos jornalistas e pelas autoridades.

Pedido de desculpas

Sobre a fuga à justiça norte-americana na altura, que o impediu de regressar ao país mesmo para receber um Oscar em 2003, Geimer explica que, mesmo depois de uma junta psiquiátrica ter concluído que ele não tinha um comportamento pedófilo, o juiz insistia em pô-lo na prisão por tempo indeterminado – algo que juridicamente podia fazer na altura.

Entendo perfeitamente que ele tenha fugido“, disse. Por fim, o cineasta escreveu uma curta carta a ela em 2009, pedindo desculpas por todo o mal que lhe tinha causado. Polanski também mencionava a incrível dignidade com que ela tinha lidado com o assunto. “Eu acreditei nele“, completou.

Recorde-se que o cineasta foi preso em setembro de 2009 e os Estados Unidos requisitaram a sua extradição, pedido que não foi atendido pelos suíços. Após dez meses a cumprir prisão domiciliar num chalé nos Alpes, Polanski foi libertado em 2010, com os helvéticos a alegar falta de provas para proceder a sua expulsão.

Atualmente, Samantha Geimer trabalha no setor imobiliário e vive no Hawaii, com o marido e três filhos.

Notícias