Sexta-feira, 29 Março

«Jack et la mécanique du cœur» (Jack e a Mecânica do Coração) por João Miranda

 

Nascido no dia mais frio de sempre, Jack teve de ter o seu coração, que era apenas uma pedra de gelo, substituído por um relógio de cuco. Com essa substituição veio também a proibição de se apaixonar ou o seu coração-relógio desfazer-se-ia, matando-o. Esta é a premissa de Jack e a Mecânica do Coração, um filme com contornos steampunk (sem nunca os assumir verdadeiramente) baseado num álbum concetual da banda e no livro ilustrado do próprio realizador.

É fácil reconhecer a influência de Tim Burton, tanto na estética, como nos temas, mas falta a “Jack” uma coerência que caracteriza esse realizador. As cenas neste filme sucedem-se e com elas sucedem-se também os estilos, não chegando nunca a formar um todo: se o filme começa em Edimburgo, no comboio em direção a uma fantasiosa Paris aparecem Jack o Estripador (Deus sabe porquê, já que não torna a aparecer e não adiciona nada à história) e Georges Méliès (esse para incluir uma absurda, mesmo que sentida, homenagem ao cinema). A única razão que se pode antever é mesmo a vontade de encaixar uma qualquer música de um álbum conceptual que (apesar de nunca o ter ouvido sem ser no filme) se revela igualmente desconjuntado. No final ficamos com pouco mais do que uma série de clips de vídeo, alguns mais ou menos ligados.

A história em si também não maravilha como outras. Aliás, neste campo a comparação com Tim Burton também se revela desvantajosa. Há algo de frio na forma como as personagens agem que nos impede de empatizar com elas. Quando o filme atinge o seu auge, no confronto entre dois rivais (que assim o são só porque sim) e que coincide com o acontecimento a três quartos de todas as comédias românticas em que o objecto romântico se convence que não é amor o que lhe é oferecido, os motivos absurdos que são cantados para justificar as suas ações não convencem o espectador que, a essa altura, só espera que o filme faça alguma espécie de sentido quando acabar. Mas nem isso.

O Melhor: Parte da história e da música.
O Pior: As constantes excrescências que não servem a história; a falta de coerência.


João Miranda

 

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