Sábado, 20 Abril

«Inbetween Worlds» por Hugo Gomes

Mesmo sob um palco bélico, este não é um filme de guerra. Inbetween Worlds, de Feo Adalag, assume-se como uma revisão ao choque cultural que se vive no conflito dos países árabes, situando a sua ação num Afeganistão sob operações da ISAF. No centro desta organização militar ao serviço da NATO, somos remetidos ao pelotão do Capitão Jesper (Ronald Zemrfeld) que terá que unir forças com a milícia de Arbaki para combater um inimigo comum. Mas a cumplicidade entre ambas e diferentes “culturas” é constantemente testada por situações que complementem a sua divergência. No âmbito disso, surge Tarik (Mohsin Ahmady), um jovem afegão que aceita operar como intérprete das referidas tropas ocidentais, a ponte linguística, e não só, de dois “mundos” completamente à parte.

Numa breve cena ocorrida numa aula universitária, um professor refere as pontes que simbolizam a esperança. Na narrativa trata-se de uma alusão à personagem de Tarik, o tal último reduto dessa esperançosa harmonia entre aquela troca cultural sob fogo inimigo. Ele opera como um “antidoto” para todo o conflito que é exposto. Mas a questão é se ele será forte o suficiente para ultrapassar os obstáculos que lhe são dirigidos? A tarefa não será fácil e o destino de uma comunidade frágil, alicerçada por quebradiços pilares é várias vezes atentada a desabar. O elevado nível moral das  tropas alemãs e o fecho cultural das milícias afegãs são dois fatores incompatíveis que trarão mais consequências que louvores, e o perigo é iminente, muito mais se a dita “ponte” ceder.

Inbetween Worlds evita sistematicamente o conflito armado, ignorando os caminhos óbvios por territórios bélicos padronizados e ignora a incursão de um panfleto de guerra. O que Feo Adalag construiu foi um exemplo prático do paradoxo da torre de Babel, com vislumbres certeiros à situação que se vive no Mundo. Servido por boas prestações e uma narrativa demasiada calma no calor da guerra, Inbetween Worlds revela-nos a fragilidade das nossas “bolhas” sociais e alude ao efeito dominó das suas iminentes quebras. Todos diferentes, todos iguais, diria um slogan de campanhas humanitárias, mas na verdade é sempre a nossa diferença que prevalecerá.

O melhor – os desempenhos e a distância restrita da vulgarização do filme de guerra
O pior – Falta mais incisão na sua mensagem e mais conflituosidade com os seus personagens


Hugo Gomes

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