Sábado, 20 Abril

«Victoria» e «As We Were Dreaming», por Paulo Portugal

 

Como é habitual na Berlinale, uma pequena embaixada do melhor da produção do cinema germânico desfila na seleção oficial de competição. No caso de Victoria e As We Were Dreaming, respetivamente de Sebastian Schipper e Andreas Dresen, com a curiosidade de partilharem elementos demasiado próximos da idade da procura de uma certa liberdade e anarquia.

Comecemos por Victoria. Uma rapariga, uma noite, um assalto, um único plano. Assim pode ser resumido o filme do alemão Sebastian Schipper. De resto um conceito que acompanha a imagem promocional deste filme muito competente na sua estrutura técnica, no grau de improvisação pedido aos atores, ainda que menos na originalidade de uma conceito intrigante capaz de granjear o seu público. Algo que daria ainda mais consistência se ficasse limitado nos 90 minutos e não, como sucede nos excessivos 140 minutos.

No fim da noite, Victoria (Laia Costa), uma espanhola a viver em Berlim, sai da discoteca e trava conhecimento com um grupo de jovens que provocam desacatos por não lhes ser permitida a entrada. Numa viagem até ao fim da madrugada, haverá de passar pelo café onde trabalha, mostrar os seus dotes de pianista ao insistente sedutor Sonne (Frederick Lau), acompanhar a trupe dos seus amigos Boxer (Franz Rogowski), Blinker (Burak Yigit) e Fuss (Max Mauff) ao topo de um telhado para fumar droga, mas também acabando por participar todos num improvável assalto a um banco como forma de cobrança de um serviço que um mafioso local (Andre Hennicke) exigira ao gang de Sonne. Como é evidente para motivos dramáticos, o assalto corre mal e a correria prossegue até um igualmente desfecho que não nos espanta.

Um filme funcional onde é obrigatório o elogio ao complexo desenho da câmara de Schipper, raras vezes sem estar no devido lugar, bem como à frescura da estrela catalã ascendente Laia. Agora, é claro que Victoria não terá a originalidade de Corre, Lola Corre, nem a angústia de Irreversível, também assente em longos planos sequência e muito menos a força da história de Cães Danados. Isto apesar de Victoria ter, de forma voluntária ou não, proximidade com os títulos citados. Ainda assim, saúda-se a audácia que deverá fazer bem no circuito comercial.


As We Were Dreaming

As We Were Dreaming obedece a premissas diversas, embora com salutares pontos de contato. A forma como um outro grupo de amigos de infância evoluem de criança a adultos segundo o livro premiado de Clemens Meyer. Mas ao contrário da simplicidade linear da narrativa de Victoria, Andreas Dresen marca diversas fases da vida do seu herói (e talvez não seja de recusar alguma marca da vida do realizador), desde a infância até à euforia após a queda do muro de Berlim. Passado entre esses dois tempos, vamos conhecendo melhor a personalidade cada uma destas cinco personagens, comparando o seu passando na escola com a atualidade, marcada pelo fascínio das festas tecno, a rivalidade e violência de gangues rivais neo nazis, até às drogas mais pesadas.

Dresen tem-nos habituando a um cinema intenso e sedutor. As We Were Dreaming é um novo volume que confirma o seu talento. Interessante, mas sem os rasgos que pudesse fazer dele um candidato ao prémio principal.

Victoria

O melhor – A eficácia do trabalho de câmara
O pior – A sensação de que a história foi feita para servir o exercício de estilo


Paulo Portugal

As We Were Dreaming

O melhor – A euforia punk de uma nova Alemanha a acordar
O pior – Os fios narrativos que se tornam desconexos e perdem a vitalidade


Paulo Portugal

Notícias