Sexta-feira, 19 Abril

«Life» por Paulo Portugal

 

Um período breve e particular da vida de James Dean é capturado no novo filme de Anton Corbijn, exibido no festival de Berlim numa única e muito concorrida sessão especial de gala. Apesar de falhar um voo comparável ao estatuto adquirido por Dean, Life é competente no propósito de captar esse momento na vida do ator e também do fotógrafo, apesar de não colher as notas altas de Control, o melhor filme de Corbijn até agora. O que não significa que não venha a ser o veículo adequado para a estrelinha merecida de Dane DeHaan, convincente como James Dean, ao lado de um contido, mas ajustado, Robert Pattison.

Aqui segue-se o interessante ‘namoro’ que o fotógrafo da Magnum Dennis Stock (Pattinson) estabelece em 1955 com o jovem promissor James Dean depois de o conhecer numa festa do início de produção de A Fúria de Viver, dada por Nicholas Ray. Será aí que se deteta nesse ator, ainda pouco conhecido, o fulgor que acabaria por dar ao mundo um dos maiores ícones da juventude, ainda que o seu estatuto fosse captado em apenas três filmes. Talvez por Stock se ter apercebido mais cedo que Dean do seu próprio potencial, o segundo acabou por dar bastante espaço ao primeiro, numa espécie de dança de mútua sedução executada com algum rigor por DeHaan e Pattinson. Pena é que se trate mais de uma valsa e não propriamente um tango. Faltam momentos de maior intensidade que nos retirem de um ritmo algo monocórdico que acaba por afetar a película, ou seja, à fita falta de forma algo paradoxal… vida.

O filme segue e encena os pedaços da vida entre as fotos que Stock publicou na revista Life e que se tornaram objeto de culto após a morte do ator em 1955. Isto num período entre a estreia do filme de Elia Kazan, A Leste do Paraíso, e a época onde Dean vem a saber que fora o escolhido para protagonizar Fúria de Viver, de Nicholas Ray. O que contempla as celebérrimas imagens de Dean numa gelada Central Park, de gabardine e cigarrinho na boca, a sua ida ao barbeiro, mas também os momentos de intimidade na casa dos tios “quackers” em Iowa.

Pelo meio vemos um quase cameo de Ben Kingsley, divertido no papel do mogul Jack Warner, a avisar o menino Dean para ter juizinho, apesar de ter visto nele o potencial. Presenciamos ainda uma sessão no Actors Studio, os momentos de angústia familiar de Stock, incapaz de transmitir a adequada atenção ao seu filho e, claro, todos os momentos passados na quinta de Iowa, ou a relação insegura de Stock com o editor da Magnum, numa composição sempre robusta de Joel Edgerton.

Tal como em Control, com a biografia do malogrado Ian Curtis, líder da banda Joy Division, Corbijn volta a pesquisar os elementos e as circunstâncias na origem talvez do mais consagrado mito de uma juventude inquieta. Apesar de consistente e, como se esperava, visualmente intenso, falta-lhe o rasgo de intensidade que acaba por afetar o filme, mantendo-o no mesmo ritmo mordo da banda sonora “jazzy”. O filme funciona então mais como uma espécie de repérage ou encenação das circunstâncias em que foram tiradas as fotos da Life. Insuficiente, no entanto, para lhe dar a necessária vida ao filme.

O melhor: A composição visual do filme que revela o olhar fotográfico de Corbijn. E o momento em que Dane DeHaan poderá ter atingido o estatuto de estrela.
O pior: Um ritmo malsão que faz o filme passar ao lado de uma personalidade bem mais explosiva de James Dean


Paulo Portugal
(crítica originalmente escrita em fevereiro de 2015) 

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