Sexta-feira, 19 Abril

«Oktober November» (Outubro Novembro) por Hugo Gomes

Oktober November é um filme que nos remete a vidas cercadas, fruto de constantes decisões erradas, ao mesmo tempo que decifra o existencialismo das respetivas personagens. Dois meses distintos, apesar de próximos, correspondem a duas almas aprisionadas nesses mundos; a primeira é a da atriz Sonja (Nora von Waldstätten), intrigada com a sua natureza indefesa, mesmo que não aparente tal, e que vagueia em busca de uma invisível razão de existência. Do outro lado da moeda está a sua irmã, Verena (Ursula Strauss), a qual vive no refúgio do seu relacionamento proibido como um complemento de uma vida indesejada à mercê dos deveres herdados da falecida mãe.

Quando o pai destas duas adoece mortalmente, estes dois mundos, aparentemente diferentes mas intrinsecamente idênticos, unem esforços para combater um mal comum. Mas o choque das divergências e dos elos sanguíneos desencadeará o desvendar de segredos que drasticamente alterarão a vida de ambas.

Trata-se de um filme de forte ligação com a natureza e com o espaço em redor, ao mesmo tempo que tenta esboçar um ensaio existencialista sob uma conduta tragicamente melancólica. Porém, o resultado deste drama extensivo é o de um provocante desequilíbrio. Oktober November começa sob um ritmo pausado, mas essencialmente recorrente ao trabalho de câmara de Götz Spielmann, que pelo meio desafia as próprias convenções académicas. As interpretações falam por si, transportando todo o dramalhão, até certa altura credível. O mesmo se pode dizer dos estados de alma sugeridos, nomeadamente Nora von Waldstätten, que demonstra esse subtil e desgastante sofrimento; e Ursula Strauss, que evidencia as suas correntes invisíveis.

Mas então o que realmente falha neste Oktober November? Obviamente a sua depressão fílmica. Se tal termo fosse uma patologia, a fita de Spielmann era um autêntico sofredor, comparativamente com o castigo indevido que comete a uma das personagens mais carismáticos da trama, a qual foi merecedora de uma das mortes mais penosas e desesperantes dos últimos anos no cinema. Ao invés de jogar com o efeito de sugestão para não romper o clima criado, o realizador prefere ilustrar o tormento como de uma comédia involuntária  se tratasse. Esperava-se mais deste registo, algo libertador e mais benéfico para o elenco, e não uma novela dramaticamente exagerada!

O melhor – O elenco e a realização
O pior – demasiado longo para a intriga que incute, um final deveras penoso e cruel para uma das suas personagens. 


Hugo Gomes
(Crítica originalmente escrita em janeiro de 2015)

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