Quinta-feira, 18 Abril

«Das finstere Tal» (O Vale Negro) por Hugo Gomes

A história da mais recente aposta cinematográfica de Andreas Prochaska decorre nos longínquos Alpes, num obscuro vale onde encontramos uma remota vila, governada de forma tirânica por uma família de irmãos. Certo dia, nas vésperas da chegada do Inverno, um desconhecido chega à referida vila em busca de asilo. Visto com desconfiança por parte dos habitantes, o desconhecido fica assim instalado, mas sob constante observação por parte dos irmãos Brenner. Pouco tempo depois deste episódio, começam a ocorrer misteriosos crimes no sombrio vale, ficando o desconhecido associado aos mesmos.

O Vale Negro funciona como uma vasta menção de referências, quer cinematográficas ou literárias, para que no fundo opere como um simples filme de vingança, onde o estético é sobretudo salientado. Tudo começa com uma invocação do western profundo (neste caso podemos apelidar de “eastern”, tendo a origem da produção), convertendo gradualmente numa variação à memória de Agatha Christie, tentando até certo ponto elaborar um “whodunit“, até se moldar ao referido desfecho. Contudo, o seu trajecto é desenvolvido de forma pausada e pouco apressada, ao mesmo tempo que incute um ritmo estilístico na sua narrativa.

O Vale Negro benificia ainda da paisagem envolvente, cujo longínquo vale é simbiótico em transmitir uma aura de desolação e silenciosa misericórdia. No centro desta intriga encontramos Sam Rilley, o ator inglês que desempenha o sujeito desconhecido, dotado de poucos diálogos (o ator teve que falar alemão). É carismático o suficiente para conduzir o espectador a tornar-se o seu cúmplice. Uma cumplicidade que nos fará esquecer moralidades, maniqueísmos e  “politiquices” corretas, inquestionavelmente ligadas ao leque de “malfeitores”, roçando o pastiche.

Para terminar esta jornada que termina por ser igual a tantos outros filmes, não se deve negar a sua envolvência emocional. É a sua banda sonora, principalmente os trechos de One Two Three and A Tiger e de Lana Sharp que transmitem uma essência mais alternativa a estes “vales da morte”. Um agradável entretenimento, sem duvida.

O melhor – A fotografia, o ritmo narrativo e a banda sonora
O pior – no fundo é uma história de vingança como tantas outras


Hugo Gomes

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