Apresentado no Festival de Berlim na seção Generations, em 2012, Kauwboy (O Rapaz e o Pássaro) é um filme mais abrangente do que somente a fórmula de afeto entre uma criança e um animal, funcionando também numa metáfora inserida no realismo profundo e formal.

A obra de Boudewijn Koole aborda a turbulenta vida de um rapaz de 10 anos, Jojo (Rick Lens), que certo dia encontra uma gralha bebé. Após uma tentativa  falhada de devolver a criatura para o ninho, Jojo, sem outra solução, leva o pássaro para casa, para tratá-lo, longe dos olhos do pai. A química entre o pássaro e o rapaz são evidentes, mas o filme não foca esta amizade entre espécies, mas sim no ambiente de Jojo, inicialmente misterioso e incógnito, que ao ritmo da narrativa vai-se descortinando e revelando os verdadeiros traumas, medos e a perturbação no seio familiar.

A narrativa é minimalista o suficiente para enfraquecer a interação entre as personagens, como também o desenvolvimento destas, tudo acompanhado por uma realização indecisa de Koole (já habituado a histórias trágicas), ora por vezes formal, outra vezes académica e até certo ponto delirante. Em Kauwboy falta-nos sobretudo o ritmo de combustão para o enredo. Porém, nem tudo é mau nesta obra atormentada. As interpretações são ouro sobre azul, conseguindo transmitir ao espectador os sentimentos necessários e o conflito, sempre presente na narrativa como um espetro não identificável. E por fim, as sequências entre o rapaz e o pássaro, a ternura em frente aos nossos olhos, a libertação alada de um biótopo enjaulado.

Kauwboy é uma obra trágica, de coluna melancólica, que nos entrega um falso “coming-of-age” comprometido. Contudo, a experiência é infelizmente enfraquecida com uma prejudicial realização sem objetividade. Mesmo com bons momentos, esperava-se mais neste embate entre dois mundos diferentes.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
kauwboy-o-rapaz-e-o-passaro-por-hugo-gomesUma obra trágica e em tons de falso "coming-of-age"