Sexta-feira, 29 Março

«A Girl Walks Home Alone at Night» por Jorge Pereira

Tão arrojado como pedante, A Girl Walks Home Alone at Night é prolífero nas influências, sejam estas o expressionismo alemão, os westerns spaghetti, as novelas góticas, o pulp, a banda desenhada, o cinema de horror e claro, a nova vaga do cinema iraniano. Por aqui encontramos toques tão distintos como os de Jim Jarmusch, Frank Miller, F. W. Murnau e até Wim Wenders, criando assim um melting pot explosivo e subversivo que mostra que a estreante Ana Lily Amirpour foi acima de tudo corajosa e ambiciosa para numa primeira obra embarcar em algo bizarro, sexy e agitador que certamente será capaz de provocar os maiores elogios ou críticas, mas nunca indiferença.

Convenhamos que existem diversos problemas e limitações neste western vampírico iraniano a preto e branco passado na fictícia Bad City, local onde os drogados, traficantes, chulos e prostitutas vagueiam nas ruas. Parte conto de vingança, parte história de amor tradicional, parte emancipação feminista, a sua narrativa frequentemente entre o sonho e a realidade envolve essencialmente o espectador pelo ambiente e formalismo visual usado pela cineasta, a qual coloca a história num segundo plano, preferindo mostrar a falar, algo comum no cinema iraniano que, por questões religiosas e políticas, se agarra frequentemente a simbolismos e elementos sugestivos, em vez de usar uma censurável palavra proferida.

O resultado é um trabalho com momentos arrebatadores, certamente crucificáveis pelo tom pretensioso inerente, mas memorável como um dos primeiros filmes mais aguerridos dos últimos anos. A não perder.


Jorge Pereira

Notícias