Sexta-feira, 29 Março

«Class Enemy» (O Inimigo da Classe) por Bernardo Lopes

Obra que esteve em competição para o Leão do Futuro na 70ª edição do Festival de Veneza, O Inimigo da Classe, a primeira longa-metragem do jovem Rok Bicek, co-escrita pelos já veteranos Nejc Gazvoda e Janez Lapajne, mostra que a coragem de se se opor ao que pode ser erradamente consensual entre a opinião pública vale mais do que uma revolta conjunta praticada em prol do individualismo humano, de uma forma realista, não fosse este drama baseado em acontecimentos vividos pelo realizador.

Tudo começa com a substituição da professora de alemão de uma escola secundária, Nusa (Masa Derganc), que vai entrar em licensa de maternidade, por um novo professor, Robert (Igor Samobor), que utiliza métodos muito distintos dos seus. Quando Robert se confronta e reage com o que, para ele, é uma escola onde reina a falta de disciplina, a sua aluna Sabrina comete suicídio. Os alunos resolvem culpar o professor pelo sucedido por tudo o que este tem vindo a representar desde que chegara. Contudo, um conflito que aparentava ser sobre a perda de uma colega, torna-se na revolta de uma turma inteira contra o sistema educativo, as crises da adolescência e a existência humana.

O suicídio acaba então por ser um ponto de partida para o tema que Bicek quer abordar, visto que esse acontecimento acaba por não ser muito aprofundado nem explicado. Foca-se sim nas reações provenientes das emoções, seja dos estudantes, dos professores ou até dos próprios pais. Ninguém fica indiferente. Ninguém é dono da razão nem da culpa.

Rok Bicek consegue iniciar a narrativa com especial dinâmica, envolvendo o espectador, desde muito cedo, a todo o ambiente escolar que está a ser retratado. Impõe, também, uma linguagem poética que se intensifica com o desenvolver da narrativa, que é contrastada com os close-ups de câmara à mão e planos de longa duração que criam uma sensação de realismo dramático.

Em suma, O Inimigo da Classe, muito à semelhança de A Turma, de Laurent Cantet, e de O Substituto, de Tony Kaye, acaba por ser um fiel retrato de uma geração reactiva, emocional e desamparada que entra em choque com uma sociedade cada vez mais livre e democrática. Uma geração que se põe constantemente à prova, em busca de um conforto que se vai provando ilusório e irreal, muito por culpa de se ter vindo a tornar individualista e egocêntrica.

O melhor: Igor Samobor e a importância que Bicek dá ao fora-de-campo.
O pior: Uma abordagem dramaturgica superficial em alguns momentos.


Bernardo Lopes

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