Eis a última obra de Isao Takahata, cujo afastamento teve um timing quase certeiro com a “despedida” de outro mestre da animação, Hayao Miyazaki, que após As Asas do Vento confirmou a sua reforma dos estúdios Ghibli. Talvez seja isso como que The Tale of the Princess Kaguya detenha uma fantasmagórica aura de melancolia, mas ao mesmo tempo um tom de doce despedida.

Narrando a lenda de uma rapariga miniatura encontrada numa cana de bambu que se converte numa princesa que cativa tudo e todos, esta animação proclama uma arte pouco convencional no panorama atual, um encantador e subtil grafismo como lápis de carvão que nos distancia do real e transporta-nos literalmente a um belo mundo de faz-de-conta. Neste conto que se estende a um épico animado encontramos o rigor, o calculo das imagens, onde o ínfimo pormenor não é deixado de lado, sobressaindo assim uma fábula visual.

Vale a pena não esquecer da emoção imposta nesta animação, que por sua vez é exposta ao espectador. São sentimentos que não nos envergonham, de uma linguagem universal e fora do preconceito de animação e da “lavagem” Disney que o género foi alvo durante a sua criação. Takahata criou aqui uma obra-prima, o seu legado de um trabalho contributivo na animação por vezes ofuscado com a aclamação geral do seu conterrâneo e colega Miyazaki. Não nos enganemos, não o devemos encarar como um menor na sua arte.

Aliás, é arte aquilo que corretamente devemos apelidar este The Tale of the Princess Kaguya, um festim de “paladares” para o olhar que arremata a lenda e a emancipa, adquirindo forma e vida própria em tela. Tocante, viciante, a história interminável, a fantasia possível pela animação, que por sua vez é possível pela visão deste mestre. Um adeus terno. Isao Takahata deixará imensas saudades.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
João Miranda
the-tale-of-the-princess-kaguya-por-hugo-gomesDelicada poesia em forma de animação