Daniel Monzón durante a apresentação de El Niño revelou que o seu filme custou cerca de 6 milhões de euros para concebido. Segundo este, o mesmo preço nos EUA serviria apenas para colocar Bruce Willis como protagonista. Uma obra cara para o cinema espanhol, mas um filme barato para o cinema de Hollywood. O mais impressionante neste efeito low cost é que El Niño não fica atrás em termos rítmicos nem energéticos dos imensos produtos de ação norte-americanos que invadem constantemente os nossos cinemas, tendo, e aqui roçando o cliché da crítica, menos pirotecnia de exibição.

Decorrendo entre o estreito de Gibraltar e o Norte de Marrocos, o novo filme do realizador do portentoso Cela 211 é um policial que por vezes funciona como uma narrativa entrelaçada sobre o trafico de droga da região. Aqui seguimos um agente da lei, Jesús (Luís Tosar novamente na colaboração), que tenta impedir a ascensão de um barão da droga inglês (uma participação especial, mas quase espírita, de Ian McShane), que se tem sempre conseguido esquivar às operações policiais. E em paralelo, a historia de dois jovens que tentam erguer-se no mundo da droga, mas o amor entre um deles e uma marroquina impede-os de avançar. Duas histórias injetadas do mesmo tema, mas diferenciadas por diferentes perspetivas, unem-se até certo ponto para nos demover a um espelho social da região, embora demasiado dependente da ficção “pipoqueira”.

É verdade que El Niño é um filme, enquanto obra de ação, com qualidades inegáveis: as suas sequências de ação isentes de tecnologia digital são prova disso, e de certo impressionam, mas este novo trabalho de Monzón está longe de surpreender em apresentar-se como algo mais cinematográfico. Se a intriga da personagem de Tosar resulta na perfeição, já o habitual conto do vigário não. A história dos dois jovens no mundo do trafico é esboçada por um certo teor bacoco, ao qual se acrescenta um romantismo juvenil demasiado fraco para atingir relevância na intriga. Mais ainda quando é o jovem ator, Jesús Castro (cada vez mais ascendente na industria de cinema espanhol), a protagoniza-lo. O ator é demasiado inexpressivo e “limpo” para se sujar de emoções, uma prestação que é ainda prejudicada em comparação ao dos os “colegas”, Jesús Carroza e Saed Chatiby.

Outro ponto negativos é a edição, a qual evidencia uma certa pressa no processo, assim como a sua linguagem televisiva que nada acrescenta ao engenho já mostrado por Monzon no passado. Provavelmente El Niño nunca fora projetado como um “next big thing” do cinema de ação, mas a sua forma artesanal é já por si um motivo para merecer uma espreitadela.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
el-nino-por-hugo-gomesExiste um fascínio pela sua própria natureza da ação