Sexta-feira, 19 Abril

«Come To My Voice» por Jorge Pereira

Não tem sido fácil a vida de Berfe (Feride Gezer), uma mulher que viveu toda a sua vida no seio da pobreza, isto sendo uma curda na Turquia. O marido foi preso há muitos anos atrás após um pequeno roubo na aldeia onde vive e agora o filho foi também aprisionado pelas autoridades, que desconfiam que na aldeia onde vivem existem muitas armas e terroristas que lutam por uma causa que iria impor um estado curdo na região (em nenhum momento é mencionado o PKK). A verdade é que essa arma não existe, mas ainda assim ela terá de a encontrar (nem que compre uma com o dinheiro que tinha guardado para o funeral) e entregar às autoridades para recuperar o filho.

O filme segue então a jornada desta mulher e da neta, a pequena Jiyan (Melek Ulger), em busca de uma arma para que possam resolver a situação. Recorrendo ao folclore local, como a história antiga da raposa que perdeu a cauda, e viajando ao longo das inóspitas paisagens do sudeste da Turquia, onde até encontramos uma série de personagens curiosos, como um grupo de bardos cegos que anda de terra em terra a contar estórias, Come To My Voice é um filme que mostra o que é viver na sua terra e ser «escravo» de um poder. O filme é, aliás, muito comparável à cinematografia que vem normalmente do médio oriente, em especial da Palestina, pois para além de haver uma disputa territorial, o povo deste filme sofre na pele igualmente com inúmeros contratempos e discriminações diariamente, como a presença de barreiras policiais e o despotismo das autoridades sobre a população.

Mas apesar de este ser um filme com uma mensagem politica (disputa territorial) e social (na abordagem à pobreza extrema), a forma como se aborda as lendas curdas dá-lhe também uma dimensão cultural (a que se acrescente a música e vestes). Já as personagens da avó e da neta dão-lhe acima de tudo uma dimensão humana e até de alguma esperança, transformando esta fita num crowd pleaser inesperado, enquanto simultaneamente leciona um pouco da história de um povo que raramente vemos no cinema.

Assim sendo, este é um bom segundo filme do realizador Huseyin Karabey, o qual teve o previlégio de receber diversas distinções, estando entre elas o prémio do público no Festival de Instambul, bem no centro do país a quem lança farpas.

O Melhor: Filme com sentimento e ao mesmo tempo uma mensagem política e social de um povo
O Pior: Tem naturalmente algumas limitações


Jorge Pereira

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