Filmado num único plano sequência através de uma câmara estática que enquadra o espaço como um palco teatral, A Film for Friends (Film pentru prieteni) é um dos mais curiosos ensaios de Radu Jude, não só pela técnica, uma espécie de found footage dramático, mas pelo rol de emoções díspares, como a tragédia e o humor, transmitidas pelo seu protagonista: Gabriel Spahiu, um ator que já tínhamos visto em A Morte do Sr. Lazarescu (2005) e em The Tube With a Hat (2006), uma curta do próprio Jude.
Aqui Spahiu é «professor de geografia» frustrado que monta uma câmara na sua sala e fala para ela. Esta é uma mensagem de despedida, onde ele acusa os seus amigos e familiares de não entendê-lo, mas também a sociedade romena pós-comunista por não funcionar na sua plenitude. Após esta mensagem, que dura cerca de 30 dos 60 minutos que o filme tem, o homem dá um tiro na cabeça. Felizmente, ou não (depende do ponto de vista do suicida), ele não morre, ficando gravemente ferido e cego. Aquilo que se segue é o caos de um homem que sobrevive a um tiro na cabeça, mas também uma invasão de cena por parte de diversos vizinhos da vítima que, perplexos, tentam perceber como o podem ajudar perante a bizarra situação.
Na sua declaração de intenções, Jude afirma que este seu filme é sobre as consequências de pessoas que gostam demasiado de si próprias. Spahiu, com uma interpretação notável, incarna na perfeição o seu papel agonizante, entregando-se de corpo e alma a uma personagem profundamente desesperada. Curiosamente, essa empatia que sentimos em relação ao seu suicida vem mais da expressividade do ator do que propriamente do texto criado para definir a sua personalidade. A sua revolta, choro, gemidos, gritos, palavrões, associados à sua caracterização realista – onde sobressaem os seus olhos esbugalhados e refletores do desespero, são as grandes mais-valias de um filme, que apesar de ter um toque experimental consegue prender o espectador, como se num espetáculo mórbido e voyeurista se tratasse.
Jorge Pereira
