Sábado, 20 Abril

«Artă» (Art) por Jorge Pereira

Enquanto preparava uma nova longa-metragem, Fixeur (The Fixer), o cineasta romeno Adrian Sitaru começou a questionar-se onde termina a arte e começa o abuso e o maniqueísmo dos autores. Ao abordar nessa futura longa-metragem o tema do tráfico e da prostituição de menores, era inevitável o cineasta ponderar e discutir aquilo que podia mostrar e exigir a jovens atores e a linha que separa o realismo e a exploração. [um dilema que Maja Milos deve ter tido quando fez o seu Klip].

Assim nasceu Artă (Art), uma curta-metragem de 20 minutos em formato quase “mockumentary” na qual Emi (Emanuel Parvu), um realizador, tenta convencer a mãe de Anca (Iulia Crisan), uma jovem de 13 anos, a participar num filme onde teria de fazer alguns gestos mais sexuais.

O argumento de Emi é que onde há arte não há obscenidade, evocando mesmo Ninfomaníaca, Taxi Driver e o Império dos Sentidos, ou uma eventual presença do filme em Cannes e até nos Óscares. E se tentam convencer a mãe com este tom artístico e com a importância da temática, pois a fita serviria como alerta, à jovem Anca tentam “vencê-la” pela “vaidade” de participar num filme, isto sempre tendo em conta que os colegas da escola a podiam ver (ou não, como Sitaru brinca, pois «os romenos parece que não veem cinema romeno»).

Apesar dos seus curtos 19 minutos e de ser uma discussão bem antiga (o que é arte e o que não é?), Artă tem o dom de tratar tudo de uma forma ligeira, com humor e uma maneira não muito intrusiva ou excessivamente intelectual, destoando apenas um pouco com o seu final surreal, como que a tentar a dar um ar místico e bizarro a toda uma discussão que até aí parecia séria.


Jorge Pereira

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