Sábado, 20 Abril

«Hermosa Juventud» por Hugo Gomes

A situação precária e sufocante que se abate sobre a sociedade espanhola, nomeadamente nos mais jovens cidadãos, envolvidos numa constante desilusão face às promessas [incumpridas] feitas pelo mercado de trabalho, são revistas neste novo filme de Jaime Rosales sob o titulo irónico de Hermosa Juventud (Bela Juventude). Na sua teoria, esta obra ditada por um realismo avassalador e talvez formalista na sua forma de transcrição, é mais um do panorama dos dramas de cariz social que a Espanha nos tem presenteado nos últimos anos, como evidente reflexo da sua atualidade.

Até mesmo na filmografia de Rosales, já havia mostrado algo idêntico, muito mais o ensaio realista e naturalista ditado por um câmara simbiótica ao termo, mas sem o interesse de ser explicito na sua captação do real encenado. Sim, é verdade que o retrato social, a crónica de um jovem casal que tenta sobreviver numa “selva austera” é cumprida sob um jeito identitário e sem qualquer injeção do artificialismo ficcional, mas convém admitirmos, nada disto surpreende-nos. É o trágico modelo de cinema europeu, melancólico e triste ao mesmo tempo amargurado e pessimista. O mesmo se pode adjetivar os seus actores, demasiado penetrados nesta pele de um cinema que recusa o afastaento do cenário realista.

Mas onde Hermosa Juventud consegue garantir um espaço entre a mostra cinematográfica que faz parte, é na sua narrativa. O dispositivo encontrado por Jaime Rosales para gerir o tempo, o que soaria demasiado esquemático face a um registo preocupado com o dia-a-dia dos seus protagonistas, é solucionado através de capturas de ecrã de telemóvel. Subtilmente administrando uma pequena critica ao consumo destes meios de comunicação que tem vindo cada vez mais a romper a interacção humana, é um fast forward silencioso, útil e engenhoso, visto sabermos que Hermosa Juventud remete-nos ao quotidiano de jovens obrigados a crescer. Um realista exercício narrativo!

O Melhor – O dispositivo narrativo encontrado para descrever o tempo
O Pior – É realista até à medula, mas será que o realismo cinematográfico deste género já não se encontra formatado neste tipo de produções?


Hugo Gomes

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