Quinta-feira, 28 Março

«Socialism» por Hugo Gomes

Peter von Bagh (falecido recentemente) é um cineasta e por isso é evidente que esta sua retrospetiva acerca do socialismo, as promessas envoltos e os pesadelos gerados, seja estruturalmente constituída pela cinematografia proletariada ou de ideologias comunistas e anti-capitalistas. Obviamente, Socialism é incapaz de contornar o cinema russo Bolchevique, pudera, visto que até mesmo a História do Cinema é incompleta sem os avanços da montagem e do poder da edição que Eisenstein e Dziga Vertov, por exemplo, proporcionaram na ciência cinematográfica. Peter Von Bagh beneficia assim desse fator para construir um documentário sob uma linguagem existente, numa montagem cuidadosa e por vezes instintiva.

Mas não é só o idioma russo que é fluente esta cinematografia socialista. França, Itália (o neorrealismo), Alemanha (o tão incontornável Metropolis de Fritz Lang a servir de modelo exemplar) e até mesmo EUA (Charles Chaplin é dos mais prolíferos) integram esta coletânea de imagens que tão bem especificam a natureza da ideologia, a evolução desta e os homens que estiveram à frente destes movimentos políticos e sociais. Von Bagh especifica o termo pedagógico e interativo que o Cinema pode constituir, e mais, um espelho de um Mundo envolto. O documentarista começa por abordar o nascimento do socialismo, com referencias obrigatórias a Karl Marx, Friedrich Engels e Lenine, e sob o olhar de Pier Paolo Pasolini (O Evangelho de São Mateus) insinua a natureza comunista do próprio Jesus Cristo, tão evidente na Bíblia Sagrada.

É um facto que os ideais socialistas encontram-se em toda parte, mesmo que os seus autores neguem as ditas influências, como foi o caso de John Ford, um dos mais conservadores cineastas da Idade do Ouro de Hollywood, onde o confronto de classes, a igualdade como Paraíso a atingir, estão bem presentes no seu clássico Grapes of Wrath (As Vinhas da Ira), e o ator Henry Fonda a servir de “herói marxista”, tão bem confundido com os bons valores norte-americanos. Socialism esboça assim a História desta politica de pensamentos, desde os seus tempos áureos até, e sob uma questão pertinente – o que torna o socialismo tão temido, a aventura ideológica que se tornou pesadelo, nos regimes intolerantes entretanto originados. Aliás, nenhuma politica ou ideal é perfeitamente correta ou encaixada homogeneamente nas sociedade atuais, pois todas possuem falhas e “aberturas” que dão acesso a “demónios infernais” que salientma a negra natureza dos Homens.

Pode o documentário ser objetivo? Pergunta Peter von Bagh a certo momento no seu Socialism. A resposta, essa, deve ser procurada e levantada em cada uma destas produções documentais, nos seus valores, a sua ousadia e eficácia na objetividade, criatividade e linguagem visual. Felizmente, Socialism preenche esses requisitos, consolidando o fascínio cinéfilo com o nosso tempo, onde a 7ª Arte é servida como estudo e não como arte ou entretenimento. Sim, bastante satisfatória esta viagem pela estrutura do socialismo.

A spectre is haunting Europe – the spectre of communism …” Karl Marx

O melhor – O Cinema como temática ideológica, politica e social
O pior – Só ter pouco menos de 70 minutos de duração


Hugo Gomes

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