Sexta-feira, 29 Março

«The Iron Ministry» por João Miranda

Os transportes públicos são essenciais ao desenvolvimento de um país e da sua economia. O comboio, apesar de cair em desuso no Ocidente com a ascensão do carro particular, ainda desempenha um papel muito importante noutras zonas do mundo. Na China, o seu papel é crucial. Por essa razão, J.P.Snadiecki resolveu filmá-los durante três anos, os seus passageiros, as suas opiniões e medos, e as suas disparidades.

Já antes, na edição do Doclisboa de 2012, Sniadecki nos tinha trazido uma visão diferente da China em People’s Park. Desta vez, em vez de um plano único, temos vários fragmentos em vários comboios. O realizador explicou a sua forma de proceder: em viagens de várias horas, a interação com outras pessoas é inevitável (Sniadecki é alto e obviamente não-chinês); ao final de algum tempo perguntava às pessoas se as podia filmar e a conversa prosseguia. Conseguiu, assim, apanhar diferentes classes sociais com formas próprias de ocupar o comboio e de falar sobre o desenvolvimento sócio-económico e do futuro da China. Se uma pessoa defende a forma como o governo trata as minorias, outra fala sobre a crise imobiliária e ainda outra da forma como os transportes vão ajudando à ocupação do Tibete. Tudo isto com uma dose de humor impressionante. Veja-se o monólogo de uma criança precoce a gozar com os anúncios dos comboios e a apelar a comportamentos anti-sociais.

Mais uma vez, o realizador consegue trazer-nos imagens que, por vezes, se apoiam em ideias que temos desta cultura, outras negam-nas. A complexidade de uma sociedade que se encontra num nível de desenvolvimento para o qual não parece pronta mostra-se neste filme com a sobreposição das diferenças entre os distintos tipos de comboios e as várias utilizações que lhes são dadas. Se há algo a apontar ao realizador é sempre a falta de contexto e de informação, mas isso já não parece ser defeito, mas feitio.

O Melhor: Os contrastes; O humor.
O Pior: A falta de contexto e informação.


João Miranda

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